sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A tentação totalitária

O texto reproduzido abaixo é de autoria do recifense Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé, filósofo, professor, escritor, colunista e Ph.D em filosofia pela Universidade de Tel Aviv, publicado no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo de 18 de julho de 2011.



Primeiro vem a certeza de si mesmo como agente do "bem total", depois você vira autoritário em nome dele


VOCÊ SE considera uma pessoa totalitária? Claro que não, imagino. Você deve ser uma pessoa legal, somos todos.
Às vezes, me emociono e choro diante de minhas boas intenções e me pergunto: como pode existir o mal no mundo? Fossem todos iguais a mim, o mundo seria tão bom... (risadas).
Totalitários são aqueles skinheads que batem em negros, nordestinos e gays.
Mas a verdade é que ser totalitário é mais complexo do que ser uma caricatura ridícula de nazista na periferia de São Paulo.
A essência do totalitarismo não é apenas governos fortes no estilo do fascismo e comunismo clássicos do século 20.
Chama minha atenção um dado essencial do totalitarismo, quase sempre esquecido, e que também era presente nos totalitarismos do século 20.
Você, amante profundo do bem, sabe qual é? Calma, chegaremos lá.
Você se lembra de um filme chamado "Um Homem Bom", com Viggo Mortensen, no qual ele é um cara legal, um professor universitário não simpatizante do nazismo (o filme se passa na Alemanha nazista), e que acaba sendo "usado" pelo partido?
Pois bem. Neste filme, há uma cena maravilhosa, entre outras. Uma cena num parque lindo, verde, cheio de árvores (a propósito, os nazistas eram sabidamente amantes da natureza e dos animais), famílias brincando, casais se amando, cachorros correndo, até parece o Ibirapuera de domingo.
Aliás, este é um dos melhores filmes sobre como o nazismo se implantou em sua casa, às vezes, sem você perceber e, às vezes, até achando legal porque graças a ele (o partido) você arrumaria um melhor emprego e mais estabilidade na vida.
Fosse hoje em dia, quem sabe, um desses consultores por aí diria, "para ter uma melhor qualidade de vida".
E aí, a jovem esposa do professor legal (ele acabara de trocar sua esposa de 40 anos por uma de 25 -é, eu sei, banal como a morte) o puxa pelo braço querendo levá-lo para o comício do partido que ia rolar naquele domingão no parque onde as famílias iam em busca de uma melhor qualidade de vida.
Mas ele não tem nenhuma vontade de ir para o comício porque sente um certo "mal-estar" com aquilo tudo. Mas ela, bonita, gostosa, loira, jovem e apaixonada (não se iluda, um par de pernas e uma boca vermelha são mais fortes do que qualquer "visão política de mundo"), diz: "meu amor, tanta gente junta querendo o bem não pode ser tão mal assim".
É, meu caro amante do bem, esta frase é uma das melhores definições do processo, às vezes invisível, que leva uma pessoa a ser totalitária sem saber: "quero apenas o bem de todos".
Aí está a característica do totalitarismo que sempre nos escapa, porque ficamos presos nas caricaturas dos skinheads: aquelas pessoas, sim, se emocionavam e choravam diante de tanta boa vontade, diante de tanta emoção coletiva e determinação para o bem.
Esquecemos que naqueles comícios, as pessoas estavam ali "para o bem".
Se você tem absoluta certeza que "você é do bem", cuidado, um dia você pode chorar num comício achando que aquilo tudo é lindo e em nome de um futuro melhor.
E se essa certeza vier acompanhada de alguma "verdade cientifica" (como foi comum nos totalitarismos históricos) associada a educadores que querem "fazer seres humanos melhores" (como foi comum nos totalitarismos históricos) e, finalmente, se tiver a ambição política, aí, então, já era.
Toda vez que alguém quiser fazer um ser humano melhor, associando ciência (o ideal da verdade), educação (o ideal de homem) e política (o ideal de mundo), estamos diante da essência do totalitarismo.
O que move uma personalidade totalitária é a certeza de que ela está fazendo o "bem para todos", não é a vontade de destruir grupos diferentes do dela.
Primeiro vem a certeza de si mesmo como agente do "bem total", depois você vira autoritário em nome desse bem total.
O melhor antídoto para a tentação do totalitarismo não é a certeza de um "outro bem", mas a dúvida acerca do que é o bem, aquilo que desde Aristóteles chamamos de prudência, a maior de todas as virtudes políticas.
Não confio em ninguém que queira criar um homem melhor.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Preço da Vaidade


Quem poderia ser culpado, além do o próprio homem, como grande responsável pelos sucessos e derrotas que experimenta ao longo de sua existência? Ainda que a vida se apresente mais dura para alguns que para outros, mais afortunados, questionar o destino que coube a cada um não irá solucionar ou amenizar o problema, serve apenas de muleta para justificar alguma postura incompatível com a “estatura” humana. A habilidade do homem em se justificar ou encontrar motivos para comportamentos repreensíveis é tão natural, que aparenta ser inata. Praticamente todas as pessoas, em maior ou menor grau, tendem a buscar uma causa plausível para sua “fraqueza”. Talvez, a necessidade humana de conviver em grupos, induza o homem seguir normas e convenções sociais que disciplinam, moralizam e orientam sua conduta dentro dos padrões “éticos” aceitos pela sociedade, força-o a desenvolver habilidades e conhecimentos que o permita sobressair, se destacar ao interagir com o restante do grupo. Ao seguir ideias e convenções pertinentes a sua cultura, adota uma variedade de preceitos que, com certeza, acata por convenção e desconsidera sua razão. O ato de instruir ou educar tem, obviamente, sua relevância indubitável, no entanto, a pedagogia, a arte de ensinar, vai muito além do simples desejo de preparar, ela pode ser utilizada para conduzir ao adestramento mental não apenas crianças, mas também adultos a adotarem convenientes conjuntos de ideias, mesmo sabendo que seu objetivo seja na maioria das vezes, a harmonia entre semelhantes, ao querer lapidar a comportamento pessoal incutindo hábitos e atitudes nomeadas equivocadamente de educadas, assim, embutem valores que acabam por influenciar a conduta e o pensamento individual, uma característica desejável aos mecanismos de controle social, pensamentos infiltrados que subliminarmente suprimem a inquietude e confortam o homem, direcionando-o para uma realidade manipulada, artificial. O fato é que a exacerbação do valor da aparência física, das posses, do aspecto profissional e até mesmo do intelecto, tem contribuído para fomentar nas pessoas a necessidade do lisonjeio, de se sentirem admiradas pelo que representam e não pelo que realmente são. Curiosamente, mesmo aqueles que aparentemente estavam imunes à frivolidade, sucumbem a ela, revelando o quanto é suscetível a personalidade humana.



Infelizmente o homem é sobrecarregado com todo tipo de cobranças, familiares, sociais, religiosas, profissionais, que o incentivam a seguir ou definir alguma forma de sobressair, revelar-se e se fazer perceber ante ao seu círculo de amizades, desde que isso não o predisponha contra as pessoas de seu convívio, a família ou a sociedade. Embora sutil, a máquina social oprime e massacra o homem sem que este observe a enorme pressão que está submetido, talvez porque esteja imerso nela desde que nasceu, sendo “ensinado” a seguir padrões pré-estabelecidos que agradam aos anseios da maioria, mas que ignora e tolhem suas manifestações ou questionamentos mais íntimos.



O sistema é maquiavelicamente tão bem engendrado para vender a felicidade que ela pode ser encontrada sob os mais diversos nomes, como: fortuna, sucesso, viagens, beleza, etc., ou seja, oferta-se uma ampla variedade de “mercadorias” que atribuem ao bem-estar um cunho comercial, um produto pronto para ser comprado, divulgado e vendido pela mídia seguindo os estereótipos culturais, parametrizando e difundindo um comportamento humano de uma sociedade que adula o culto a imagem, a ostentação e a futilidade.



A criatividade humana é tão fecunda e produtiva no que se refere à criação de mitos e fantasias, que cria em torno dessas ilusões uma atmosfera de que para ser feliz é necessário ter sucesso, poder comprar, possuir, no entanto, o desejo da posse desmedida gera a expectativa, obsessão e o medo, que fomentam uma série de cobranças individuais e trazem a reboque o estresse e a angústia de querer sempre “ter”, acompanhar “a moda”, exibir aquilo que de melhor se pode ter, porque “aquilo” representa o sucesso e confere respeito, conforme apregoam as normas de uma sociedade de consumo focada apenas nas aparências, distanciando os homens e gerando até mesmo violência pela posse material.

O ex-presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, proferiu em um de seus vários discursos uma frase cuja mensagem remete a uma reflexão mais profunda, disse ele:

“O grande inimigo da verdade não é muito frequentemente a mentira - deliberada, controvertida e desonesta, mas o mito - persistente, persuasivo, e não realista.”

Ao ter que adotar certos padrões de comportamento e normas sociais para se sentir incluído no ambiente em que vive, o homem tem que se submeter a rigores coletivos que sufocam muitas de suas intuições, consequentemente, tem, em muitos casos, que ignorar a si mesmo e relegar sua individualidade ao segundo plano, ao fazê-lo desrespeita seus anseios mais íntimos e transgride a tênue linha que o separa o bom-senso da insensatez, torna-se um escravo do sistema. Ao privar-se de suas vontades e sentimentos para atender demandas externas, ele abre mão de uma vasta possibilidade de realizações construtivas que poderiam nortear sua vida num sentido mais humano e menos materialista. Ao render-se aos hábitos da maioria despreza o intento de equilibrar essas partes, estabilidade que transforma a felicidade em algo duradouro, um estado de espírito e não um objeto a ser adquirido, fruto da ambição e do exibicionismo, mais um mito do prazer difundido pela mídia que incentiva o consumo e uma superficialidade cada vez maior.

Realmente não deve ser fácil reagir e partir para ação contra o “status quo”. O desprendimento necessário para superar as barreiras e regras que adotamos como verdades deverão certamente gerar o conflito, dificilmente o homem admitirá serenamente suas vulnerabilidades e o quanto é frágil diante as tentações materiais, esse humildade decorre do amadurecimento individual, uma caminhada solitária por um caminho íngreme e espinhoso até alcançar este refúgio, em contrapartida, a conquista é gratificante e perene, poder assenhorar-se de suas convicções e perceber que essa fortaleza compensa muitas vezes o sacrifício empreendido, livrando-se da frustração de ter que estar sempre querendo ser superior, se exibir e competir com o semelhante.

Quantas vezes o homem tende a queixar-se da sorte e esquece-se de observar a sua volta, vítima da cegueira social; ao fazê-lo verá que muitas de suas reclamações são dádivas diante dos problemas alheios. Inverter a ótica sobre os problemas talvez seja uma solução, em muitos casos, os transtornos independem de sua vontade, mas é certo que em algum momento surgirão, cedo ou tarde, é inevitável. Ao enfrentar às dificuldades que a vida lhe impõe, o ser humano tem a chance de vê-las como uma oportunidade, isso reduz seu desgaste e demonstra que certas diretrizes não dependem apenas de dele, mas sim de uma conjuntura mais abrangente de fatores a que todos estão sujeitos, desta forma não despende a preciosa energia que poderia ser investida em outros projetos, ou até mesmo em si, ao invés de se lamentar e “marretar em ferro frio”. Cabe ao homem aproveitar as experiências que a vida lhe concede e são um ótimo subsídio, para questionar o valor das coisas que o cercam, reavaliar e desprezar aquelas que são ou passaram a ser consideradas inúteis, sem ter que envelhecer para deduzir tardiamente quanto tempo foi perdido investindo no efêmero. A maturidade brinda ao homem o questionamento de valores que outrora foram venerados, como: o culto ao novo, ao dinheiro, a aparência, ao externo. Cultivar valores dessa natureza não traz garantia alguma de felicidade, mas encanta boa parte da juventude, que pode demorar muito tempo a perceber o equívoco.

Embora seja necessário zelar pela saúde física, a paranoica sociedade moderna estabeleceu padrões de comparação com figuras midiáticas, supostos protótipos da felicidade que ocultam em sua efêmera beleza a melancolia que vivem alguns desses ícones, verdade velada que pode contrastar com o tormento ou o desespero daquela personificação do sucesso, coisa pessoal que raramente vem a público, emergindo apenas quando a bulimia ou anorexia se tornam evidentes demais e falam por si. Cuidar da aparência é ótimo, mas superar o culto a imagem é também saudável, livra o homem da escravização da forma e serve para desopilar a mente destes padrões de perfeição, traz alento e ajuda superar a insatisfação pessoal para aqueles que não se encaixam na severa norma. Essa consciência faz aperceber-se do privilégio de ser individual, único, portanto, diferente de todo resto, sentimento que incentiva o homem amar a si mesmo e a aceitar as próprias diferenças e compreender as do próximo, ciente de que estes contrastes fazem parte da essência humana, cheia de qualidades, mas também imperfeita. Cada um, ao seu modo, luta para viver de acordo com suas limitações, e está cioso delas, porém, se a natureza lhe foi generosa, aproveita-se da sorte ou da fama para gozar de suas benesses, contudo, sem que isto constitua uma regra a ser aplicada sobre a vida, afinal, essa, como outras, é uma realidade transitória.

Ironicamente o homem é capaz de infligir o maior revés ou a mais terrível adversidade a ele mesmo, qual desafio pode ser superior que enfrentar as próprias dúvidas e temores, qual inimigo poderia interpor tantos obstáculos, dúvidas e incertezas sobre as atitudes a tomar. O escravo da cultura do consumo mantem-se acorrentado a valores vagos, mesmo desconhecendo a origem da verdade que ensejam, sem perceber que esses princípios o deprimem e o afastam de sua realização. Ao perseguir o mundo quimérico das aparências, alimenta e dá vida a espectros e assombrações emanados dos medos que lhe foram encucados, obrigando-o a prestar satisfações sociais, pensamentos cuja origem dificilmente conseguirá dominar se não possuir coragem e propensão a mudança. Apesar do governo de sua vida “estar” em suas mãos, a forma com que compreende e concebe o mundo depende de um mosaico de aspectos muito particulares que inevitavelmente tem que ser considerados para ajuizar uma opinião sensata sobre a vida para conseguir se libertar da ditadura das aparências e se conceder ao direito de escolha, livrar-se da adoção de moldes sociais fundamentados na vanglória, caso contrário, permanecerá trilhando o mesmo caminho batido por outros viajantes, guiados pela vaidade, seguindo para o mesmo “céu”.

Este texto não faz a apologia ao voto de pobreza ou que devamos levar uma vida franciscana, mas objetiva assinalar que certos valores como a vaidade estão sendo desvirtuados e destorcidos, adquirindo um caráter pernicioso sem que a maioria das pessoas se aperceba da ameaça que isso representa.




terça-feira, 30 de julho de 2013

Deus, Além da Esperança.


Em 650 a.C., uma frase estampada nas paredes do Oráculo de Delphos ignorava a mitologia grega, rica em deuses e deusas do Olimpo, dizia o seguinte: “Conhece-te a Ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum”. Tal frase também é atribuída a Sócrates. A filosofia sempre questionou a origem das coisas, suas relações entre si e como interagiam influenciando o destino do homem, sempre tentando estabelecer métodos, formas de estudo e “observações” que permitam obter uma explicação que seja no mínimo razoável, racional, sobre o mundo que vivemos. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, afirmava que as palavras são abstrações humanas utilizadas para simbolizar percepções e representar os pensamentos, e complementa, diz que as palavras são metáforas que buscam uma correspondência no mundo real, perfazendo o absurdo de estabelecer uma correspondência entre o sujeito e o objeto, considerando a essência de suas naturezas diferentes. Para ele, a emblemática cultura humana utiliza-se de mecanismos como a crença, ciência, filosofia, entre outros, para identificar o não idêntico, criando sinais, letras, palavras, etc. a partir de divagações mentais elaboradas para materializar de alguma maneira as assimilações psíquicas que são absolutamente imateriais. Seguindo a linha de raciocínio nietzcheniana, é possível afirmar que a compreensão do homem sobre o mundo a sua volta é predominantemente empírica, individual e única, uma experiência pessoal onde o ser interage emocional e sensorialmente de forma íntima, pura, algo que não pode ser reproduzido e retransmitido a outrem fidedignamente. Ao contar uma história ou narrar sobre qualquer fato, pesam aspectos que não podem ser vivenciados por terceiros, ou seja, mesmo com todo zelo pelos detalhes, existem qualidades que não podem ser retratadas com a mesma intensidade de quem viveu a experiência, portanto, qualquer que seja a história, em algum momento ela faltará com a verdade em sua totalidade. As narrações reproduzem somente as opiniões particulares daqueles que participaram de algo, e ao calor da emoção, no anseio de propagá-las, acabam por embutir uma assinatura pessoal, mesmo que inconscientemente, algum produto da própria criatividade, espelhando o sentir e o pensar de quem testemunhou o acontecimento do fato naquele instante, consequentemente, distorcendo a verdade. Além disso, tem-se que considerar todo o universo de deficiências físicas e psicológicas que podem afligir qualquer criatura humana e jamais devem ser ignorados. Há um dito popular que resume sabiamente esta situação: “quem conta um conto, aumenta um ponto”.

O empirismo é, e sempre será parte relevante do processo de aprendizado humano, contudo, nem todas as conclusões poderão ser obtidas somente à luz da experimentação, algumas estão distantes do mundo físico, são imateriais, imprevisíveis, surpreendentes, como os sentimentos, que apesar de não palpáveis, podem ser sentidos, são reais. Para estes casos, é plausível lançar mão de outros recursos e aliar ao aprendizado empírico ao método heurístico, que sugere chegar à verdade através de seus próprios meios, e não por intermédio de alguém ou alguma coisa, contudo, esse método pressupõe desprendimento e desapego, deve-se estar livre de preconceitos e “consciente” quando da sua aplicação à busca de um juízo de valor, de modo a evitar o automatismo que inviabilizaria uma resposta consistente. A Verdade é uma conquista sublime, intransferível, não admite intermediário, não deve ficar à mercê das opiniões alheias e não pode ser herdada de terceiros.

A inabalável inquietude humana sobre suas origens sempre remeteu ao homem os mais diversos pensamentos, desde que começou a raciocinar e questionar a própria existência viu aflorar em seu espírito o “desejo” por respostas que explicassem o significado de sua vida. Não é apenas plausível, mas muito razoável pensar que o homem inventasse ícones, objetos de adoração e crenças que tentassem esclarecer o início e porque não dizer, o final dos tempos. Se nos dias atuais, a ciência humana ainda rasteja tentando obter respostas para sua justificar sua presença neste pequeno planeta, contido numa uma galáxia perdida nos confins do universo, não seria muita pretensão de alguns homens se arvorarem a dizer como foi o princípio e como será o final dos tempos?

As religiões e seitas ao querer moldar o pensamento humano e o mundo de acordo com suas conveniências, predestinando o futuro do homem, não estariam propagando um temor “desnecessário” a Deus?

As crenças com seus inúmeros messias acabam por confundir e separar o homem de seus semelhantes. Amparando-se em argumentos vagos, cada uma construiu uma visão própria do paraíso e do inferno, conceitos controversos que servem apenas para afligir e confundir os fiéis na busca pela redenção. O paradoxo consiste no fato de que ao crer o homem deliberadamente ignora a verdade, pois, se predispôs a acreditar naquilo que lhe é transmitido, doutrinado, ou seja, a mente humana, a razão, não intercedeu refletindo sobre o benefício ou malefício daquilo que lhe foi imposto, menosprezou seu direito de escolha e não teve sequer a oportunidade vivenciar ou experimentar sua veracidade.
Se for crendo que se ascende a Deus, diante dessa fartura de crenças e seitas, o homem aflito e desnorteado deve se perguntar: qual é a verdadeira, ao “deus” de que religião ele deverá render suas preces para alcançar a salvação?

Cabe perguntar: é preciso crer para conhecer a Deus? Crer em quem?

Talvez seja necessário rever e repensar essa postura humana e aprender mais sobre as crenças e suas divergências. Ao conhecer e compreender o papel das crenças o homem se torna livre para pensar além de seus limites, dogmas e preconceitos. Ele passa a ter a possibilidade de enxergar novos horizontes e vislumbrar outras possibilidades. Não se trata de ateísmo, ceticismo ou qualquer outra forma de repúdio a religião, tanto a crença quanto a descrença, são faces de uma mesma moeda, no seu âmago jaz a rejeição, neste caso, tal qual o crente, o cético ou ateu, também padece do sentimento de intolerância e aversão à diversidade e ao pluralismo, privando si mesmo de conhecer o novo. Remetendo a Nietsche e sua visão particular sobre as palavras, seria a palavra “deus”, suficiente para representar toda magnificência do Criador ou representaria somente uma tradução superficial calcada nas aflições e sentimentos humanos? Como transcender ao seu significado? O que é real?

Talvez a tradição oral de cada língua traga conotações diferentes ao significado das palavras, no entanto, o desejo comum de compreender a “razão” da existência humana fornece vitalidade e alimenta a “esperança individual” de ascender a Deus e gozar de suas bênçãos. É nessa esperança que convergem todos os esforços do homem em prol de sua remição. Valendo-se somente do significado de uma palavra, o homem converte o propósito de sua vida em um punhado de palavras que adornam outras e, por conseguinte, constroem histórias que se perpetuam mantendo sua finalidade primordial, iludir, supondo que a palavra não é o real, mas somente uma representação dele.

A graça das palavras está em permitir ao homem que registre sua trajetória através dos tempos, escrevendo sua história. É pela mão do homem que elas são manuseadas e utilizadas para se adequarem aos anseios dos escribas que governam suas penas. A palavra é mais que um meio de comunicação, ela é instrumento de poder, de manipulação, que despensa até as mídias, porque pode ser oral, como muito bem fazem os políticos. Temer o poder das palavras seria sensato ou apenas um exagero? Palavras soltas nada significam, mas se não contiverem uma mensagem... Este é o propósito, poder transmitir alegrias, dores, verdades e mentiras.

O texto que está diante de vossos olhos caro leitor, é de fato um texto, e isso é uma “verdade” irrefutável, não é? Ninguém, em seu juízo perfeito, seria “louco” de negar que seja. Então seria possível dizer que a palavra “texto”, aqui empregada, sintetiza a verdade, no entanto, palavras que se referem aos sentimentos tem uma compreensão muito íntima, não se pode ver ou tocar o que representam; não se pode apontar para o amor ou a tristeza e afirmar que isto ou aquilo seja amor ou tristeza, quando citadas, analogamente o cérebro humana constrói associações com “experiências individuais” de amor ou tristeza, já vivenciadas, para ser capaz de sentir e entender seus significados. Ao se referir à palavra “deus”, o homem vai se reportar a quê, a crença que sacraliza as palavras atribuindo lhe verdade, ou a si mesmo? Como se portar diante da palavra “deus” se cada religião tem uma imagem própria e explicações divergentes sobre a “coisa” designada pelo significado dessa palavra?. O que pode ser aplicado a Deus? Certamente cada crença a fará a sua maneira, fundamentada na esperança de que Deus seja desta ou daquela forma. Esperança alimentada pelo medo e pelo temor que muitos seres têm em torno de suas angústias, aguardando que alguém possa salvá-los dos “pecados” cometidos nesta terra e livrá-los do purgatório.

Segundo o psicólogo francês Gustave Le bon, “A esperança é filha do desejo, mas não é o desejo.”, para ele a esperança induz a crença que alimenta a realização do desejo. Qualquer pessoa pode desejar o que quiser, muito embora não existam garantias de que tal anseio se realizará, apenas a esperança de que possa acontecer. A esperança gera a expectativa que consiste na passividade da espera, porque geralmente está além das capacidades ou recursos daquele que a nutre, acalentando a possibilidade de sua realização. A ilusão da esperança alimenta a fornalha do temor, ao lançar mão dela, o homem o faz subjugado pelo medo oriundo da insegurança de perder de algo que deseja para si, mas que teme não conseguir alcançar ou independe de sua vontade manter. Sempre haverá mercadores da esperança dispostos a acudir os aflitos, e se uma não for bastante, inventarão outras, prontas para atender as pretensões daqueles que se acham pecadores.

O advogado Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres escritores do Império Romano, argumentava que os homens submetiam suas vidas ao governo do medo, menosprezando a prudência que repele o temor e faculta a descoberta. Ao tentar combater seus flagelos espirituais, insiste em superar suas fraquezas temperando seus receios com esperanças que os enganam e apaziguam vossos temores. Sobre o medo e a esperança escreveu:

Estabelece equilíbrio, pois, entre a esperança e o temor; sempre que houver completa incerteza, inclina a balança em teu favor: crê no que te agrada. Mesmo que o temor reúna maior número de sufrágios, inclina-a sempre para o lado da esperança; deixa de afligir o coração, e figura-te, sem cessar, que a maior parte dos mortais, sem ser afetada, sem se ver seriamente ameaçada por mal algum, vive em permanente e confusa agitação. É que nenhum conserva o governo de si mesmo: deixa-se levar pelos impulsos, e não mantém o seu temor dentro de limites razoáveis. Nenhum diz:
- Autoridade vã, espírito vão: ou inventou, ou lhe contaram.
Flutuamos ao mínimo sopro. De circunstâncias duvidosas, fazemos certezas que nos aterrorizam. Como a justa medida não é do nosso feitio, instantaneamente uma inquietude se converte em medo.

Séneca, in 'Dos Reveses'

Nem é de admirar que assim seja: ambos caracterizam um espírito hesitante, preocupado na expectativa do futuro.
A causa principal de ambos é que não nos ligamos ao momento presente antes dirigimos o nosso pensamento para um momento distante e assim é que a capacidade de prever, o melhor bem da condição humana, se vem a transformar num mal. As bestas fogem aos perigos que veem, mas assim que fugiram recobram a segurança. Nós tanto nos torturamos com o futuro como com o passado. Muitos dos nossos bens acabam por ser nocivos: a memória reatualiza a tortura do medo, a previsão antecipa-a; apenas com o presente alguém pode ser feliz!

Séneca, in 'Cartas a Lucílio'

A luz da reflexão e após apartar os fantasmas do dogmatismo, é muito fácil questionar a palavra “deus” e seus significados, a inquietude decorrente desta ação “consciente”, pode culminar em alguns questionamentos, entretanto, estes suscitarão uma série de outros, basta pensar de maneira isenta e minuciosa para que cada um mergulhe sua mente num turbilhão deles.

Será que o homem adora uma ilusão construída por ele e não a Deus?
Se cada religião criou para si um Deus que venera, e está realmente fundamentada em ensinamentos que profetas e messias receberam deste Deus ou da própria encarnação dele, onde esta a Verdade?
Qual “palavra” escrita em meio a tantos livros sagrados poderia conter a Verdade ou seriam todos utopia?
Seria possível que um livro contivesse ”toda” verdade sobre Deus?
Quem poderia libertar o homem da “palavra” e de sua própria ilusão?

Segundo o pensador e filósofo indiano Jiddy Krishnamurti, é natural que após questionar-se de maneira tão contundente e profunda o ser humano se pergunta: “Se não há ilusão, o que resta?” e responde, “apenas o que é”, “o que é, é o que há de mais sagrado”. A simplicidade da resposta do pensador indiano continua alimentando a dúvida, ele esclarece:

“o que é, é o que há de mais sagrado, leva a muita incompreensão, porque não percebemos a verdade que ela encerra. Quando se enxerga que "o que é", é sagrado, não se mata, não se faz guerra, não se espera nada, não se explora.”.

 Neste caso ao assimilar essa “verdade” o homem desperta para mudança, para transformação, mas não de maneira impositiva ou doutrinária, e sim por uma vontade interna, um estado de consciência que o fez aperceber-se da necessidade dessa vicissitude.

Não é preciso “crença” para ser bom, para se almejar a paz do estado de espírito. Negar essa premissa é afirmar que todos os ateus seriam maus, e não só eles, também os crentes, pois, para aqueles que professam outra crença, todos os restantes lhe parecem infiéis, consequentemente toda humanidade estaria condenada. E já não está? A credulidade e a propensão ao engano não levam a verdade, somente a ilusão. Sacralizar divindades serve apenas para afastar o homem de si mesmo, semeando a discórdia em torno do Pai e rebaixá-lo ao comum, ordinário, mundano, pecador, do “altíssimo” Deus; para que pessoas que se vangloriam mais puras, portadoras da verdade, contudo, iguais a todas as outras, se aproveitem da boa fé alheia para lhes conduzir como pastores, para depois tirar-lhes o leite, a lã e finalmente a carne. É necessário tanto sofrimento para almejar a salvação ou as pessoas simplesmente deixam-se levar pela tradição?

O trecho abaixo reproduz parte do pensamento do pensador e filosófo argentino Carlos Bernardo Gonzáles Pecótche, que possuía uma compreensão muito peculiar sobre Deus e a verdade, afirmava ele: “Essa Grande Verdade é a concepção suprema de todo pensamento ou pensamento de Deus, e é, ao mesmo tempo, Deus, porque é a razão de ser e a causa eficiente de todas as coisas. Se buscarmos a razão de ser de nossa entidade humana faremos isso seguindo tal pensamento até a própria raiz de nossa origem, e a própria raiz de nossa origem está, logicamente, no que denominamos Grande Verdade. De modo que, buscando-se cada um a si mesmo, encontrará no final de sua busca a seu próprio Criador, e se converterá, ao identificar-se com Ele, em criador de si mesmo e em colaborador direto da Criação.”

Felizmente, apesar de serem subliminarmente impostas, as religiões não obrigam seus seguidores a manter os seus vínculos e permanecer em seus templos, quem deseja se afastar é “alertado” para os riscos de se distanciar de Deus, que ironicamente é benevolente e onipresente segundo elas próprias. O máximo que fazem é banir ou demonizar aqueles que se retiraram de sua sombra. Mas, não há porque recear, aos apóstatas arrependidos as portas estarão sempre, convenientemente abertas, para acolher novamente o cordeiro desgarrado. Em tese, qualquer pessoa está “livre” para alçar voos para outros campos, e experimentar novas seitas ou crenças, experimentar novos sabores de “Deus”, talvez mais palatáveis, onde poderão conhecer novas “verdades”, salvar o espírito e granjear os frutos da felicidade que lhe serão prometidos em conquistas financeiras e materiais, sem perceber, contudo, que está voejando em círculos. Hoje o proselitismo campeia solto tentando sempre arrebanhar novos fiéis às “obras”. É um mercado ávido em franca expansão, sempre imbuído das melhores intenções, onde sacerdotes afiam suas oratórias para encantar o fiel como sendo os passaportes da redenção, porém atentos as suas aflições, preocupados em perdê-lo para o templo vizinho que também anseia seduzi-lo para arrebanhá-lo. Em compensação, as pessoas podem, se quiserem, utilizar-se da razão e valerem-se do questionável “livre-arbítrio”, procurando respostas em si mesmas, avaliando sua conduta, observando o mundo a sua volta e a forma como interagimos com ele e com os seres que dele fazem parte. Permitindo-se a observar “o que é”.

Quem ousa ir além da esperança busca liberdade. Não está a procura por um Criador parametrizado pelas religiões, maculado pelas deficiências humanas, o Etéreo feito homem; deseja senti-lo simplesmente e saber que essa força é a pura essência do todo, imanente ao próprio universo, para poder despir-se de si mesmo, pensar e experimentar a alegria de viver sem os temores e as angústias dos preconceitos, aprender que sempre é possível transformar, aprimorar e melhorar aquilo que somos e não aquilo que pensamos ser, ou então, continuaremos atados à esperança, a complacência inadiável do tempo, e testando a paciência infinita de Deus.

A carta reproduzida abaixo, surpreendentemente bela, é do filósofo holandês Baruch Spinoza e certamente, merece ser lida.

Deus falando com você.

Para de ficar rezando e batendo no peito!
O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias.
Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Para de me culpar da tua vida miserável:
Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.

O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria.
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho...
Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar.
Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar,
que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos.
Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.
Viva como se não o houvesse.

Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.

E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Para de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?

Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisas de mais milagres?

Para que tantas explicações?


Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti... aí é que estou.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Dinheiro, O Ilusório Poder


Desde que nasce o homem começa a experimentar o que chamamos poder. Mas, como? O que “pode” o ser humano em tão tenra idade? Apesar de não ser instintivo, segundo os psicólogos, antes mesmo de aprender a se comunicar a criatura humana é capaz de manifestar seus desejos mais primitivos originados a partir dos instintos, como comer. Ao rir, fazer birra, chorar, etc., a criança demonstra suas necessidades e sentimentos, e também uma grande diversidade de emoções que ainda não pode exprimir através das palavras e, no entanto, podem ser reveladas por outros meios.

Na natureza boa parte das criaturas que se organizam em clãs ou grupos sociais, possuem um membro que detém o poder, o macho ou a fêmea alfa, a matriarca, etc. A convivência social entre humanos, segue a mesma linha, na célula familiar os filhos se submetem ao “poder” do pai e da mãe, que lhes provém a liderança, a segurança, o alimento, o amor (e também o primitivo respeito ao irmão (ã) mais velho que a princípio se impõe pelo tamanho sobre o mais novo). Observadores, os pequeninos são hábeis aprendizes, rapidamente assimilam a hierarquia familiar, aprendem manipular, dissimular e conhecer o poder. Percebem o “modus operandi” daquele pequeno universo e se condicionam a ele, subordinando-se às regras, mas no seu íntimo cultivam a vontade de conquistar sua redentora independência, que os livrará da submissão às “normas da casa”. 

Esse desejo pessoal pela liberdade é natural, porém na sociedade humana ele está associado ao poder financeiro, tão relevante para alcançar as condições necessárias para atingir esta meta, contudo, em decorrência dessa compreensão vigente, pensam que esse “desejo” lhes é facultado pela posse dinheiro. De fato, é verdade, no mundo contemporâneo, sem o vil metal não se vai muito longe. Mas a alforria dada pelo sucesso financeiro pode converter-se na numa masmorra fria e escura. Ao confundir dinheiro e poder, alguns homens costumam despir-se de sua moral e de sua ética, se sujeitando as mais medonhas maquinações para tê-lo cada vez mais, uma dependência perniciosa que pode consumir-lhes a vida, destruir famílias, desvirtuar suas origens e comprometer seu destino, trazendo a reboque todas as consequências nefastas que a sede cega pelo poder e o dinheiro podem abarcar. 

Quantas pessoas deixaram-se levar pela ganância e pela ambição para angariar benesses que estão além da vaidade descabida, seduzidas pelo dinheiro, imaginam que o dinheiro poderá render-lhes além do efêmero valor da fortuna, a fama e o poder que costumam estar associados ao sucesso financeiro, e quando alcançam alguma notoriedade vazia, acreditam  tornar-se ícones da admiração alheia, extrapolando o pequeno valor de seu duvidoso mérito. Esse equivocado conceito do mundo moderno aniquila a dignidade humana, inverte valores e justifica os meios para se alcançar os fins, mas até onde poderá chegar a criatura humana impregnada destes vícios. Será necessário um colapso social decorrente da ruptura destas estruturas sociais que privilegiam a arrogância e a indiferença, para que possa sobressair após duras penas e muito sofrimento uma nova forma de compreender as intrincadas relações humanas, mais justa e solidária, sem a tirania financeira reinante que afasta cada vez mais as pessoas. Crítico radical do capitalismo, Mahatma Gandhi, se opôs a esse sistema, que se vangloria da opulência e da posse material, e corrobora para o aumento das desigualdades que caracterizam a estratificação da sociedade humana em classes, ou melhor, “castas” regidas pelo desmoralizante poder aquisitivo. Adepto do asceticismo e avesso a cultura do consumismo exagerado, Gandhi acreditava numa distribuição mais igualitária da renda, algo que pudesse garantir a um número maior de pessoas uma qualidade melhor de vida, seu pensamento ficou registrado de forma indelével na seguinte afirmação: "No mundo há o quanto basta para a necessidade de todos, mas não para a ganância de alguns.".

Não é raro ver pessoas, que se acham abastadas, desmerecer a condição do outro apenas porque este se encontra numa situação menos favorável. Ignorantes da empáfia que assumem, esquecem-se que a humildade é uma das virtudes mais valorosas do espírito humano e que felizmente até o mais rico dos homens pode ser simples e humilde, se quiser, contudo, para alguns, pobres de espírito, pobreza muito mais cruel que a material, consideraram que ao agir desta maneira, humildemente, estejam assumindo uma postura de subserviência diante do outro e que isto caracterize algum demérito ou rebaixamento, arrogantes que esquecem da própria indigência espiritual que os aflige.  

Infelizmente, algumas pessoas são tão convictas de que são “melhores” que outras, que por achar que detém aquilo que de melhor seu dinheiro pôde comprar, enxergam-se numa realidade a parte, afastam-se do mundo comum, que já não lhe serve mais, que é apenas o reflexo de uma sociedade asquerosa e enauseante, onde elas se quer desejam pisar. Essa patologia anti-social chega ao ponto de restringir sua liberdade de ir e vir, confinando-as de tal forma que faz com que evitem transitar nos lugares públicos, cheio de pessoas comuns, humildes, inclusive mendigos, locais que consideram encardidos e insalubres. Inconscientes do próprio cárcere, negam a si mesmas conhecer e experimentar a multiplicidade de cenários que a vida as outorga, sejam eles belos ou não. Entorpecidas pela mediocridade de seu relativo “status”, encasteladas no seu mundo de “faz de conta”, cercam-se daqueles que lhe parecem iguais e muitas vezes desprezam antigas amizades, desinteressadas e verdadeiras, afastam-se de velhos amigos e pessoas boas que levam suas vidas simples e honestas.

Lamentavelmente, essa deficiência humana passa despercebida para muitas destas pessoas que por algum motivo se julgam melhores que outras, mesmo que qualquer cidadão tenha o direito inequívoco de estimar seu próprio valor, ao valorar-se em excesso, colocando-se acima dos demais, cria-lhes o delírio de uma auto-suficiência irreal, levando-os a ignorar que são tão vulneráveis quanto o resto da humanidade. Mesmo os poderosos que tem de se entrincheirar atrás de um exército de guarda costas, carros blindados e mansões impenetráveis, estão a mercê de si mesmos, dos riscos inerentes ao simples fato de estar vivo, principalmente ao de adoecer, as enfermidades não escolhem quem serão suas vítimas, ricos ou pobres, homens ou mulheres, ao acaso, nada importa. Recentemente um controverso presidente latino americano de origem modesta, experimentou a impotência de seu próprio poder ao si confrontar com a doença, eis que ele, advindo dos quartéis, chega ao cargo máximo de uma nação, apesar de ter todo um povo aos seus pés, pouco pôde fazer contra a moléstia auto-imune que se instalara em seu corpo. Mesmo que gastasse todo dinheiro do país não conseguiria armas para superar seu inimigo interno, que o atacou de forma silenciosa e “invisível”. Para que lhe serviram todo poder sobre a nação e o dinheiro que dispunha. Mesmo podendo pagar pelos melhores médicos do planeta, a linha do seu destino fora traçada de forma irrevogável, e talvez estivesse tão absorto pela ilusão do poder que foi incapaz de perceber a gravidade da doença que o acometeu, relegando-o a mesma condição de qualquer pessoa comum, obrigando-o a acatar resignado aos ditames da vida e derrotado, ter que encarar a impiedosa morte.

O parágrafo acima não é nada mais que uma metáfora crua da fragilidade humana e quão efêmera é sua existência. Não são apenas as doenças, o homem possui outros inimigos internos que interagem entre si e também agem silenciosos, como cupins, corroendo por dentro, porém de maneira mais grave, atacam a essência humana daqueles que se deixam seduzir pela aparente doçura do poder, açúcar que os consome por dentro deixando somente uma casca oca e bolorenta e que antes de tombar ainda poderá transmitir aos seus herdeiros valores igualmente vazios e equivocados, novamente, se assemelhando as doenças hereditárias, podem propagar aos descendentes o mesmo mal do qual padeceram seus ancestrais. 

Ao adular a si mesmo, o homem que insiste em se enganar, sonha em ser aquilo que nunca será, acaba por se expor ao risco de tornar-se um escravo infeliz, refém de sua busca obstinada pelo sucesso, frustrar-se-á sempre que se comparar a adoração às celebridades, ou a notoriedade que algumas pessoas comuns conseguiram em decorrência do reconhecimento e respeito adquiridos por sua notável sabedoria, contribuição social ou cultural. Muitas pessoas que estão em evidência, não dependeram necessariamente do dinheiro para alcançar o destaque, no entanto, mesmo que muitos famosos sejam ricos, não é verdadeiro afirmar que seja por consequência dele que adquiram sua reputação, na maioria dos casos, o que se verifica é o contrário, valeram-se do esforço, do talento, da Inteligência, etc. para sobressair, porém, a origem simples não lhes garante que estarão imunes ao egocentrismo, a arrogância e a soberba. O discutível Henry Thoreau disse certa vez: “O homem mais rico é aquele cujos prazeres são mais baratos.”

Este texto não alude ao voto de pobreza ou alguns desatinos filosóficos de Thoreau e Tolstoi, que insinuam que para ser feliz a pessoa deverá levar uma vida franciscana junto à Natureza renunciando aos seus anseios ou posses materiais, como gostam de divulgar oportunamente certos parasitas, mercadores da verdade que se aproveitam do poder da “palavra” ao arrepio de Deus. Seres transfigurados de salvadores que fazem “qualquer coisa” para auferir ganhos financeiros surrupiando e subtraindo os poucos bens e o minguado dinheiro dos verdadeiros humildes, alegando querer fazer o bem, dilapidam sem piedade os menos favorecidos, puros de coração, prometendo salvação, quando eles mesmos, infectos “pecadores”, padecem da moléstia da cobiça desmedida pelo dinheiro alheio, refletida na desumana falta de escrúpulos de suas atitudes.

Ninguém precisa acreditar em sofismas ou devaneios para encontrar um equilíbrio entre a necessidade do dinheiro e o fausto, qualquer pessoa “consciente” pode deduzir que para viver com um mínimo de dignidade a aquisição de posses materiais é necessária. A manutenção saudável da atual vida humana exige estes bens que permitem as pessoas viverem com algum conforto e decência, e também para si presentearem com o prazer de aproveitar a vida, o direito ao lazer, contudo, querer conquistar o poder à custa do dinheiro esperando felicidade nunca foi e nunca será uma boa política. Como o amor dos bons pais, o verdadeiro “poder” decorre do respeito e da liderança adquiridos pelo exemplo subsidiado pelo comportamento e pela postura isenta apresentada durante a trajetória da vida; coisa que não pode ser comprada é merecida por aqueles que tiveram a maturidade para lidar com o poder; perseverança para não se deixar influenciar pelo comodismo e a propensão ao fácil; e respeito aos valores morais, escudo para resistir aos feitiços da mordomia e da ostentação que podem encantar os mais suscetíveis às facilidades financeiras. Felizmente, temos inúmeros exemplos de pessoas que alcançaram o poder e não deixaram sua personalidade e seus princípios serem corrompidos pelo dinheiro, bastiões da integridade que iluminam como faróis na escuridão a conduta que aponta os bons rumos da vida, reforçando em nós a eterna esperança de que é possível aguardar por dias melhores. 

Ainda que o dinheiro possa comprar o silêncio das testemunhas e a omissão dos juízes, jamais poderá apaziguar a inquietude d’alma e redimi-lo de si mesmo. 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A Cultura da Barbárie



Civilização e barbárie essas palavras são mais que antônimos, guardam consigo um antagonismo profundo que vai além de seus significados opostos. Segundo o dicionário, a primeira é uma palavra imbuída de qualidades, isto é, abarca o grupo de pessoas ditas educadas, solidárias, predispostas a compartilhar e ajudar-se mutuamente para benefício do grupo, são aqueles que vivem em sociedade e respeitam o espaço e a opinião alheia, pré- requisito para civilidade, em resumo, possibilita a co-existência pacífica dos entre os membros que integram uma comunidade. Além das aglomerações humanas, a natureza está repleta de vários exemplos bem sucedidos da vida em sociedade, como as colônias de abelhas, que se caracterizam pela “perfeita” organização “social”, onde a parcela de trabalho de cada indivíduo é de vital importância, esse mecanismo cria uma rede de interdependências fundamental para manutenção da salubridade do ambiente onde vivem estes insetos. Mesmo agindo de forma instintiva, algum motivo as forçou a se organizar em prol da sobrevivência do conjunto, condicionando-as a se enquadrar nas normas que regem sua sociedade para que ela não se convertesse no “caos”, o que poderia dizimar toda colmeia. Paralelamente as sociedades humanas também pressupõem de certas condições muito similares, existe a necessidade de se adequarem a uma série de padrões instituídos para que possam tornar a convivência humana possível, estas normas sociais são necessárias para que o conceito de liberdade não se converta em anarquia. Em contraposição, a barbárie é o estado em que vivem, obviamente, os bárbaros, nome dado aos seres humanos desprovidos de uma cultura que os assegure um mínimo de civilidade, fazendo sobressair os instintos mais primitivos sobre a conduta do homem, fazendo aflorar a violência, a crueldade, a estupidez, em suma, sintetizando uma situação de anarquia onde o desrespeito as leis prevalece sobre o estado de direito individual e o cidadão de bem se torna refém da insegurança e do medo do próximo, como uma epidemia que se alastra desenfreada ameaçando tudo e a todos, indo além dos limites do suportável, cujo remédio deve ser ministrado de forma preventiva afim de se evitar que a moléstia não se propague ainda mais.


Não é segredo algum basta espiar em volta para observar como que o comportamento das pessoas vem se tornando cada vez mais frio, duro e ríspido. Sinal dos tempos, praga que assola o “estressado” e “fugidio” mundo moderno, lugar onde todos têm pressa e as pessoas se isolam cada vez mais, pouco importa o desespero ou a aflição dos menos afortunados, tudo isso sob o olhar contemplativo e tolerante dos governos, como o desenganado que cava a própria cova aguardando resignado pela iminente morte anunciada. O que está acontecendo com os homem e mulheres de bem, essas criaturas “conscientes”, privilegiadas pela inteligência que lhes faculta a capacidade de pensar, planejar e antever o futuro?  Estão cegos, incapazes de perceber a sombra que se abate sobre eles, inertes perante a tempestade que se configura no horizonte, esperando que a benevolente providência divina possa poupar-lhes do dilúvio que se aproxima.

Talvez não se trate de cegueira, este cenário parece ser mais preocupante, as pessoas estão se acostumando à barbárie, na contramão da evolução tecnológica que brinda ao homem os mais inimagináveis inventos a conduta humana tem regredido frente aos avanços da ciência. Embora não esteja em discussão o propósito da existência do homem, o fato é que ele é tem noção se si mesmo, é um ser consciente, capaz de aprender e adquirir novos conhecimentos à medida que amadurece. A ignorância é uma das mais perversas circunstâncias humanas, priva quem dela padece da liberdade de saber e conhecer a verdadeira realidade dos eventos que o cercam, incapacita e impede de ver a clausura que se encontra, torna sua vítima escrava do sistema fazendo com que ela adote gratuitamente qualquer ideologia, submetendo-a a selvageria das regras capitalistas que exortam como qualidade uma conduta competitiva individualista e desleal. Manipuladas ao bel prazer pelos governos, instituições e empresas que se aproveitam da ingenuidade das massas, torna-se fácil arrastar-lhes para o limbo da indiferença, que tudo tolera, tirando proveito da situação para minimizar a anormalidade vigente diante dos arroubos de ignorância e animosidade do comportamento humano.

Esta babel onde todos falam a mesma língua, mas ninguém se entende é o triste retrato de um ambiente social deturpado no qual as pessoas se vangloriam da ambição, da vaidade, da soberba e da ostentação, absorvidos pelo encantamento de uma cultura que enaltece valores equivocados e imediatistas, atribuindo a posse material, a riqueza e ao poder, o reflexo do sucesso da realização pessoal, é nesta realidade que as pessoas gananciosas se internam, lamentavelmente se esquecem das virtudes que caracterizam e devem nortear a essência comportamento humano, aquele que permite alcançar outro patamar e um tipo diferente de riqueza, as qualidades que dignificam e enaltecem a trajetória da existência humana neste mundo, legando aos descendentes um tesouro de valor inestimável.

Infelizmente a mídia também tem uma parcela de culpa considerável nesta situação. Claro que é papel da mídia divulgar e revelar o que acontece no mundo, no entanto, ao invés de difundir um modelo cultural “recomendável”, o que se pode ver hoje na maioria dos meios de comunicação de massa são programas recheados de piadas de mau gosto, imagens apelativas, coisas repugnantes e outros exemplos nada louváveis, quiçá inconfessáveis, do comportamento humano. Apenas a curiosidade da intromissão seria suficiente para motivar telespectadores a acompanharem frenéticos os desgastes psicológicos de um grupo de pessoas encarceradas numa gaiola chamada de “casa”, entrincheiradas no seu “ego” para não sucumbir à loucura que se submeteram. Essa abominável cultura da bestialidade e da indiscrição campeia sem restrições, da folha impressa à tela do computador, abrangendo todas as formas de propaganda, expandindo o repulsivo comércio do escárnio humano além dos limites da decência.

Mesmo no desporto o cidadão está sujeito a outras influências nefastas. O que dizer dos chamados esportes de contato, não há o que criticar quando se fala do Kung-Fu, do Karatê ou qualquer outra arte marcial, porém, o que se pode notar é outra coisa, vê-se o incentivo deliberado à indústria da luta, distante das características de uma prática esportiva, muito se aproxima de uma rinha entre humanos, digladiam-se mutuamente para auferir fama e algum dinheiro amealhado pelo movimento das apostas e pela demanda de um mercado ávido por violência. O poder das mídias é tão abrangente que é praticamente impossível conter sua invasão na vida das pessoas, mesmo na intimidade de seus lares estão desguarnecidas e indefesas, pouco podem fazer para poupar o interesse dos mais jovens, principalmente dos homens, por estes espetáculos dantescos, obrigando as famílias a reforçar a importância dos estudos, da leitura e dos valores mais elevados que conferem estatura a conduta humana, reiterando sempre que se deve ponderar com serenidade antes de agir e não se deixar influenciar por estas referências equivocadas.

Curiosamente, estas instituições aliadas aos meios de comunicação, a mesmas que difundem a comercialmente estupidez e a violência, veiculam mensagens que aludem a um comportamento mais prudente, coerente e sensato, por assim dizer, mais humano.

É difícil especular porque o fazem. Talvez uma compensação social pelo dano devastador que provocam nas mentes e na cultura de um povo ou meramente por hipocrisia. Chegam ao paradoxo de usar a imagem destes pobres “gladiadores” dos ringues numa campanha contra a violência nas ruas. Talvez não percebam a falta de sincronia entre a mensagem transmitida e a imagem da violência propagada em suas lutas durante um tempo desproporcionalmente maior, ainda que estes profissionais participem destas campanhas com a melhor das intenções, acabam por incorrer na contradição do que dizem com a figura emblemática do guerreiro que ostentam ser.

Até mesmo as religiões que deveriam ser o baluarte da moral e dos bons costumes tem sucumbido ao comportamento irascível do homem. Não são raros os casos de pregadores que contrariam as palavras que pregam diante dos fiéis no alto sagrado do altar, comparado ao modo que realmente agem e vivem. A imprensa frequentemente tem trazido matérias reveladoras que exibem toda sorte de absurdos que tem orbitado as instituições religiosas dos mais diferentes credos. Se não bastasse isso, o fundamentalismo religioso traz uma perniciosa polarização social, segregando as pessoas em “castas”, isolando-as em grupos de sectários desta ou daquela religião, propagando o afastamento e a desunião social humana e renegando a si mesmos. A intolerância religiosa é apenas uma das pontas desse “iceberg”, a reboque são trazidos a homofobia, o racismo, o fanatismo e o terror, acentuando as diferenças, disseminando o ódio ao invés do amor. Tudo é justificável em nome de Deus. Quanta incoerência. Mesmo que as religiões cumpram seu conveniente papel social, conformando os miseráveis com sua condição, por outro lado repele a ciência, o conhecimento e tudo aquilo que possa desgarrar as “ovelhas” de seu rebanho na busca pela “verdade”. O vale-tudo sacerdotal não tem limites, nem fronteiras, condenar os ateus e amaldiçoar os infiéis são uma praxe tão corriqueira que passa despercebida pela esmagadora maioria dos fiéis, que aplaudem sem pensar quaisquer devaneios proferidos em Vosso nome. Reféns da credulidade e insensíveis aos apelos da razão que lhes permitem distinguir a conduta reta, do preconceito; a falácia, da verdade posta à prova; os seguidores deixam-se influenciar pela discórdia semeada em suas mentes, regozijando-se na certeza egoística de fazer parte do seleto grupo de “escolhidos” que serão "salvos", convictos da punição divina que caberá aos demais, o purgatório.

O lazer e divertimento também não se estão livres desta ameaça, sob o amparo da tecnologia, qualquer um pode tornar-se um bandido, um assassino serial, um motorista criminoso em fuga. A indústria dos jogos eletrônicos também percebeu a potencialidade deste mercado de hostilidades e não perdeu tempo para abocanhar seu quinhão, contribuindo para incentivar ainda mais essa deplorável propensão humana. Pessoas com distúrbios psicológicos, psicopatas incapazes de gerir suas faculdades mentais, provavelmente mais sugestionáveis, podem converter-se numa personagem desses “games” violentos, não se trata aqui dos inofensivos “cosplayers”, mas aqueles que estão propensos a confundir os limites do jogo com a realidade, sem perceber incorporam a “personalidade” de uma personagem virtual no mundo real,  coisa que já aconteceu algumas vezes e provocou desastrosas conseqüências conforme noticiado.

A dança e a música também não escaparam e têm degenerado em detrimento da violência, novos ritmos e estilos “musicais” de gostos controversos, amparados pelo rótulo da inclusão social e a legitimidade do direito de expressão (manifestar e protestar) tem povoado as rádios, TVs e aparelhos de som portáteis com letras nada convencionais, que pouco ou nada contribuem para agregar algo de útil, isto quando não fazem apologia a luxúria, ao crime e ao uso de drogas, incentivando o afronto a civilidade, o bom comportamento social e as instituições que asseguram a liberdade do cidadão e o direito público, “deseducando” os jovens e comprometendo as gerações futuras.

Mas nada se compara ao trânsito como espelho da agressividade do comportamento humano, torturando as pessoas atordoadas pelos desgastes da labuta diária com a lentidão dos engarrafamentos das grandes cidades, faz aflorar os aspectos mais sombrios da personalidade do “homem”, não que as mulheres estejam imunes a raiva e a impulsividade, mas a natureza concedeu-lhes taxas menores de testosterona. Ainda que os hormônios possam influenciar parte do comportamento masculino, atribuir a culpa das cenas de estupidez que vemos nas ruas a eles é querer encontrar um “bode expiatório” para justificar a incapacidade de conter os próprios instintos e sentimentos negativos que sublimam a razão e a lucidez. Quanta dor, porque não dizer “vidas”, poderiam ser poupadas se a tolerância e a paciência fossem exercitadas como um ritual diário pelo o benefício próprio, como escovar os dentes, tomar banho, etc.

É possível que palavra decadência seja muito forte para o momento, mas a degradação da sociedade contemporânea é notória e pode ser observada no seu cotidiano, perdida e sem referências, como um barco a deriva, até o simples bom-senso já não é bastante, desprovido de padrões éticos de conduta o cidadão comum se perde no labirinto escuro da construção do próprio caráter e devido à carência das noções de respeito e autoridade não percebe a importância dos valores daquilo que realmente importa para construção de uma personalidade sadia.

A bola da vez é o meio ambiente, de fato todas as criaturas vivas deste mundo dependem dele para sobreviver, embora tenham seu mérito, as iniciativas para proteger o “ar”, a “água” e o “verde” não decorrem puramente da boa vontade alheia, mas porque são extremamente “visíveis”, tem forte apelo social, rendem uma boa vitrine de marketing e repercutem muito bem perante opinião pública, e isso ninguém questiona, mas e a boa “formação” do caráter do homem, qual a relevância do seu papel na construção da história da humanidade? Dar comida e abrigo aos portadores de deficiências incapacitantes, aos mais necessitados e os flagelados do clima, são obrigações dos gestores públicos, é para isso “também” que governos arrecadam impostos dos contribuintes, o problema é que medidas de natureza humana como estas são muito pálidas e não gozam da mesma visibilidade da anterior. A reconciliação do homem com sua essência humana deveria ser alvo de uma preocupação mais séria por parte dos governos, instituições sociais e empresas, porém, essa percepção ainda é muito discreta ou está sendo ignorada por conveniência, e se este for o caso, está missão passa a ser particular, é claro que o apoio familiar é fundamental neste tipo de formação, no entanto, algumas iniciativas são meramente íntimas, partem do âmago do sentir e do pensar, devendo ser levadas a cabo individualmente, como uma meta, algo a ser considerado com mais austeridade por qualquer pessoa que objetive melhorar a si mesma. Apesar do cenário não ser dos mais promissores, contudo, quando a tarefa atribuída é individual as chances de sucesso se tornam diretamente proporcionais ao esforço empreendido para realizá-la, comumente as pessoas fazem isso com suas vidas profissionais; então, uma vez ciente da possibilidade de se desenvolver e evoluir, qualquer homem ou mulher pode - se quiser - empenhar-se nessa luta e conquistar os louros da vitória, superando as próprias deficiências, indo além de suas expectativas pessoais, usufruindo simplesmente do bem-estar de poder ser cada vez melhor, e sabendo que se quisermos o dito popular: “pau que nasce torto, morre torto”, não passa de um estigma restrito ao reino vegetal.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Ciência versus Religião, uma luta inglória pela Verdade


Quando começou o desgaste entre essas duas “instituições” humanos não é possível precisar, poucas informações se têm desse conflito na antiguidade, no entanto, desde a queda do império romano até o renascimento, que marcou o fim da idade média, esta contenda esteve arrefecida por vários séculos, a partir da publicação do estudo do Doutor em direito, astrônomo e padre Nicolau Copérnico, em 1543, a teoria heliocêntrica,  algumas entidades religiosas começaram a sentir desafiadas, ultrajadas, ou melhor, ameaçadas pelas novas verdades que afloravam das descobertas dos homens. A discordância entre essas partes prossegue desde então, cada uma a sua maneira vem tentando, nem sempre com diplomacia, administrar o assunto delicado, muitos eventos foram marcados e ainda são, por penas cruéis ou execuções impostas aos que ousaram falar a verdade ou discordar da Palavra, por vezes, plasmados nos arroubos de estupidez de uma ou ambas as partes, contudo,  uma tem a seu a favor a pureza da verdade consubstanciada na realidade do fatos, enquanto a outra se reveste de afirmações duvidosas e de uma autenticidade que jamais poderá ser legitimada, o agnóstico Marcelo Gleiser,  Phd em física e autor, escreveu em um de seus artigos:  “Se contrastarmos explicações míticas e científicas da realidade, podemos dizer que mitos religiosos procuram explicar o desconhecido com o "desconhecível", enquanto que a ciência procura explicar o desconhecido com o "conhecível"”.

O pomo da discórdia talvez resida no fato de que uma está assentada sobre a verdade sólida, corroborada pela experiência, se mantidas suas características originais, o experimento pode ser repetido indefinidamente obtendo sempre o mesmo resultado, a comprovação inconteste da verdade ali contida, a outra, ao contrário, se fundamenta na verdade dogmática, conflituosa e questionável, cuja veracidade é impossível de ser comprovada tal a incompatibilidade de versões sobre o assunto que versa, cada uma possui diferentes versões sobre a origem do universo, do homem e seu comportamento, mudando de postura de acordo com a conveniência de cada crença, constroem a babel de contrariedades onde ninguém se entende ou é capaz admitir sua debilidade, fazendo com que estas afirmações padeçam do descrédito, vítimas das próprias contradições que lhe são inerentes, carecem, portanto, de uma unanimidade irrefutável, algo  que avalizasse tais afirmações, coisa que no mínimo consolidaria a unidade em torno do Criador.

Desamparados pela solidez da verdade argumentam que as escrituras sagradas não poderiam ter sido escritas pela mão do homem, e sim sob a luz da inspiração divina, se Deus é Uno, pergunta-se, onde está a unidade? Porque os ensinamentos trazidos por cada profeta não convergem em um único livro sagrado?  Por que a divergência com outros se a fonte da sabedoria é a mesma?  A alegação que foram escritos em épocas diferentes agrava ainda mais a situação, porque para o Eterno a dimensão do tempo é irrelevante. A vacuidade dessa justificativa e a mesma dos outros argumentos, sempre respaldados na retórica contraditória dessa pretensa verdade e na impostura dos ensinamentos sagrados, coisa que demonstra o quanto subestimam a si próprios, admitindo seu complexo de inferioridade perante a maior dadiva concedida à criatura humana depois da vida, uma prerrogativa que a torna única, a capacidade de pensar, que faculta ao homem criar, existir e, sobretudo, evoluir.  Quem sabe quanto pode o homem, senão seu próprio Criador?

Se bastasse isso, miremos nos exemplos, desde sempre as religiões se digladiam, cada uma se auto afirmando como detentora da verdade, arrogando que a sua história constitui a verdade absoluta, suprema, aquela que é magna sobre todas as outras, expressas pelas palavras próprio criador. Execrando-se mutuamente nessa discussão vexatória acabam por negligenciar a importância do assunto tão elevado, enquanto os lados se acusam arvorando aos demais que seguem falsos profetas, denotam lamentavelmente a intolerância, a soberba e a vaidade que deveriam evitar. Cabe perguntar, que verdade é essa então? Existem várias versões para verdade?  Qual delas é a verdadeira? Provavelmente todas possuem elementos da verdade, propõem-se a fazer o bem e zelar pela moral e os bons costumes, desenvolvem uma função social ao suprir a ineficácia dos governos e a indiferença da sociedade humana, criam na mente dos crédulos a ilusão de que o infortúnio de sua condição faz parte de um desígnio superior que lhes  garantirá a felicidade eterna como recompensa, mas isso será suficiente? 

Se reconhecem a existência do Divino, sabem também que Ele está acima de todas as mesquinharias humanas, atribuir a um ser notável e Universal deficiências humanas, como a ira, ou pensar que o Criador é capaz de preterir uns em detrimento de outros, é blasfemar contra Deus, contradiz a natureza de sua benevolência infinita, negando o amor incondicional que lhe é intrínseco.

É assustador perceber que em pleno século XXI há quem utilize o nome de Deus para empreender cruzadas e guerras santas, que santidade pode haver numa luta entre irmãos, que insanidade fanática faz com que se imolem ou se suicidem tentando defender sua crença, embora estes casos façam parte das exceções e não da maioria, são reveladores e evidenciam a escuridão que se abate sobre os homens subjugados pela credulidade, cegos, que ignoram o bom senso, a razão, o amor ao próximo e a própria vida em nome de uma causa vazia, seres que não aprenderam que a soberania Divina é maior que qualquer diferença religiosa.

Ao condenar a ciência com a intransigência que lhe é peculiar os crentes o fazem se esquecendo de que se valem dela para benefício próprio, ignorando as técnicas usadas para erigir a casa que vos abriga das inclemências da Mãe Natureza; das máquinas maravilhosas que os transportam através das terras, águas e também nos céus, como fizeram os mitológicos Dédalo e Ícaro; dos remédios “milagrosos” que permitem alcançar a cura, minimizando a dor dos enfermos, e salvando outros tantos da morte certa, prolongando a valiosa vida; das ferramentas da tecnologia que ampliam a comunicação entre os homens, permitindo que propaguem A Palavra para além dos oceanos em um âmbito nunca antes alcançado; são benesses da ciência. Não que ela seja perfeita, ao contrário, está cheia de imperfeições, pois ela é humana, portanto falha, sujeita às nossas deficiências. Infelizmente essa mesma ciência também é usada para o mal, para destruir e matar, mas como foi dito, ela é imperfeita, tal como os homens que dela se valem dela para tirar o proveito benévolo ou maléfico que possa ter, porém, se não fossem suas descobertas continuaríamos nas trevas, vivendo em cavernas como animais até os dias de hoje.

A ciência é humilde, ciente de sua inexatidão é capaz de adaptar-se as novas descobertas admitindo equívocos anteriores, sem condenar ou amaldiçoar aqueles que não concordam com seus postulados ou criticam seus erros, ao invés disso, reconhece no questionamento a possibilidade da evolução, distintamente, enxerga na reação não o desrespeito, mas a oportunidade do desafio de descobrir, estudar, aprender  e saber cada vez mais sobre o assunto pesquisado,  paciente, sabe que não pode se conformar  as limitações momentâneas do tecnologia humana; o pensador inglês Oscar Wilde afirmou:  “o progresso é a realização de utopias”, essa pequena frase enfatiza que através do conhecimento a ciência humana pode  progredir infinitamente, indo sempre além, contudo,  atenta aos obstáculos  e a fatalidade do insucesso, sem esmorecer na busca contínua para decifrar os mistérios do desconhecido.

O problema com alguns homens da ciência é o mesmo que aflige os sectários religiosos, a crença de que suas convicções científicas constituem a verdade. Ironicamente o ceticismo crônico de certos cientistas tem consequências danosas para seus anseios na busca pelo conhecimento, a negação deliberada do metafísico extirpa de suas vidas a esperança do significado de suas existências, reduz o viver ao materialismo inócuo que transforma homens em objetos, coisa que pouco ou nada acrescenta a criatura humana, deixando-se seduzir pelo valor efêmero das posses materiais, o pesquisador que sucumbe ao poder econômico afasta-se consequentemente da nobreza de sua missão e vende sua alma pela melhor oferta. O preconceito da negação de Tudo expressa de certa forma o medo instintivo do desconhecido e a fragilidade de sua razão, esse comportamento institui entre os meios científicos a Crença de Descrença, colocando em xeque sua duvidosa racionalidade, mergulhando-os na mesma “sopa” de arbitrariedades de outros crédulos que tanto criticam.

É muito cômodo para homem crer ou descrer. 

A credulidade encontra principalmente na mente dos ingênuos um campo fértil para se instalar. Desprevenidos à falsidade e ao sofisma, vulneráveis, admitem como verdade tudo que lhe és “ensinado” sem se questionar porque o fazem, ficando a mercê da sugestão alheia, que depois de encrustada converte-se numa carapaça contra verdade. O outro lado da moeda é o conveniente ceticismo intelectual da descrença gratuita, que tende a rechaçar todo e qualquer argumento que esteja fora ou além do escopo da ciência humana, mesmo sem compreender a profundidade do que trata o assunto, refutam sem hesitar qualquer explicação que não se enquadre nos paradigmas acadêmicos, alijando a si mesmos a oportunidade de explorar e conhecer o novo. O pensador argentino Carlos Bernardo González Pecótche resumiu de maneira magistral essa controvérsia na seguinte frase: “A única concessão possível ao ato de crer, sem que se invalide em nada o exposto, é a que surge espontaneamente como antecipação do saber; noutras palavras, só se deverá admitir aquilo de que ainda não se tem conhecimento, mas durante o tempo mínimo requerido por sua verificação através da própria razão e sensibilidade”.

O impasse oriundo desse debate em torno do ceticismo científico fez com que dois cientistas estadunidenses publicassem no final do século passado seus estudos sobre o Princípio Antrópico Cosmológico que insinua a atuação de um ente superior na regência do equilíbrio cósmico, o primeiro foi Robert Dick, posteriormente Brandon Carter, que dividiu o trabalho e duas partes, o princípio fraco e o princípio forte, outros cientistas também seguiram a mesma linha de raciocínio estudando as duas teorias, que fez simpatizantes de ambos os lados, no entanto, o Princípio Antrópico Cosmológico forte se aproxima perigosamente do antropocentrismo, orbitando perigosamente próximo a convicções de caráter religioso que colocam o homem como razão de existir do universo, devido a essa proximidade o físico e astrônomo Carl Sagan o apelidou de “Princípio Antropogênico Cosmológico”. Caberão ao tempo e a ciência definir se o Princípio Antrópico Cosmológico poderá realmente elucidar suas interessantes implicações filosóficas e científicas, quem sabe trazendo alguma explicação satisfatória sobre os fenômenos que o incipiente conhecimento humano contemporâneo ainda não é capaz de esclarecer. 

O conhecimento provê aos homens a confiança em si mesmos, requisito principal para superar conscientemente seus medos e frustrações, possibilita a ele realizar suas escolhas à luz da razão compreendendo a importância dos valores morais, éticos e sociais, refletindo antes de agir, ser consciente de suas atitudes e do porquê de sua mudança, acima de tudo, ciente que o faz por vontade própria e não por uma imposição doutrinária.

É um ledo engano presumir que a verdade possa ser contida, envasada, a Verdade é incontinente, a magnitude da verdade não pode ser confinada, parametrizada, condicionada, ou doutrinada, não importa o meio ou o instrumento, seja pela ciência ou pelas crenças, ao querer restringir a verdade o homem opta por reduzir o alcance de seu conhecimento conformando-se com o as imposições dos limites que lhe subtraem o saber, quando este domo invisível paira sobre a consciência humana, pode turvar-lhe a visão, impedindo-o de enxergar a vastidão de um horizonte ilimitado, sem fronteiras, repleto de verdades aguardando por serem descobertas por aqueles que se atreverem a pensar com liberdade. 

Em 1929 o pensador Indiano Jiddu Krishnamurti pronunciou pelo rádio, para seus ouvintes, os motivos da dissolução de sua Ordem, dizendo: "Sustento que a Verdade é uma terra sem caminhos, e vocês não podem aproximar-se dela por nenhum caminho, por nenhuma religião, por nenhuma seita. Este é meu ponto de vista e eu o sigo absoluta e incondicionalmente... Se compreenderem isso em primeiro lugar, verão que é impossível organizar uma crença. A crença é uma questão puramente individual, e não podemos nem devemos organizá-la. Se assim o fizermos, ela morrerá, ficará cristalizada; tornar-se-á um credo, uma seita, uma religião para ser imposta aos outros. É isso o que todos no mundo inteiro estão tentando fazer! “.  Refletindo sobre a mensagem acima e razoável pensar que talvez ele tenha razão ao perceber que não existem caminhos para verdade, a verdade é o caminho.

Como já foi enfatizado antes por vários sábios, a acesso verdade não é vedado a ninguém, o caminho da verdade pode e deve ser trilhado individualmente, tutelado pela própria consciência, cada um ao seu tempo, mas mesmo aqueles que se encontram amparados pela muleta das crenças ou o ceticismo da ciência também estão predestinados a encontrá-la mais cedo ou mais tarde, através da unidade com o Criador, direito adquirido por todo ser consciente que lhe é outorgado pela morte.