Em 650 a.C., uma frase estampada nas paredes do Oráculo
de Delphos ignorava a mitologia grega, rica em deuses e deusas do Olimpo, dizia
o seguinte: “Conhece-te a Ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses,
porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás
em lugar algum”. Tal frase também é atribuída a Sócrates. A filosofia sempre
questionou a origem das coisas, suas relações entre si e como interagiam
influenciando o destino do homem, sempre tentando estabelecer métodos, formas
de estudo e “observações” que permitam obter uma explicação que seja no mínimo
razoável, racional, sobre o mundo que vivemos. O filósofo alemão Friedrich
Nietzsche, afirmava que as palavras são abstrações humanas utilizadas para
simbolizar percepções e representar os pensamentos, e complementa, diz que as
palavras são metáforas que buscam uma correspondência no mundo real, perfazendo
o absurdo de estabelecer uma correspondência entre o sujeito e o objeto,
considerando a essência de suas naturezas diferentes. Para ele, a emblemática
cultura humana utiliza-se de mecanismos como a crença, ciência, filosofia,
entre outros, para identificar o não idêntico, criando sinais, letras,
palavras, etc. a partir de divagações mentais elaboradas para materializar de
alguma maneira as assimilações psíquicas que são absolutamente imateriais. Seguindo
a linha de raciocínio nietzcheniana, é possível afirmar que a compreensão do
homem sobre o mundo a sua volta é predominantemente empírica, individual e única,
uma experiência pessoal onde o ser interage emocional e sensorialmente de forma
íntima, pura, algo que não pode ser reproduzido e retransmitido a outrem
fidedignamente. Ao contar uma história ou narrar sobre qualquer fato, pesam
aspectos que não podem ser vivenciados por terceiros, ou seja, mesmo com todo
zelo pelos detalhes, existem qualidades que não podem ser retratadas com a
mesma intensidade de quem viveu a experiência, portanto, qualquer que seja a história,
em algum momento ela faltará com a verdade em sua totalidade. As narrações reproduzem
somente as opiniões particulares daqueles que participaram de algo, e ao calor
da emoção, no anseio de propagá-las, acabam por embutir uma assinatura pessoal,
mesmo que inconscientemente, algum produto da própria criatividade, espelhando o
sentir e o pensar de quem testemunhou o acontecimento do fato naquele instante,
consequentemente, distorcendo a verdade. Além disso, tem-se que considerar todo
o universo de deficiências físicas e psicológicas que podem afligir qualquer criatura
humana e jamais devem ser ignorados. Há um dito popular que resume sabiamente
esta situação: “quem conta um conto, aumenta um ponto”.
O empirismo é, e sempre será parte relevante do processo
de aprendizado humano, contudo, nem todas as conclusões poderão ser obtidas
somente à luz da experimentação, algumas estão distantes do mundo físico, são
imateriais, imprevisíveis, surpreendentes, como os sentimentos, que apesar de não
palpáveis, podem ser sentidos, são reais. Para estes casos, é plausível lançar
mão de outros recursos e aliar ao aprendizado empírico ao método heurístico,
que sugere chegar à verdade através de seus próprios meios, e não por
intermédio de alguém ou alguma coisa, contudo, esse método pressupõe
desprendimento e desapego, deve-se estar livre de preconceitos e “consciente”
quando da sua aplicação à busca de um juízo de valor, de modo a evitar o
automatismo que inviabilizaria uma resposta consistente. A Verdade é uma
conquista sublime, intransferível, não admite intermediário, não deve ficar à
mercê das opiniões alheias e não pode ser herdada de terceiros.
A inabalável inquietude humana sobre suas origens sempre
remeteu ao homem os mais diversos pensamentos, desde que começou a raciocinar e
questionar a própria existência viu aflorar em seu espírito o “desejo” por
respostas que explicassem o significado de sua vida. Não é apenas plausível,
mas muito razoável pensar que o homem inventasse ícones, objetos de adoração e
crenças que tentassem esclarecer o início e porque não dizer, o final dos
tempos. Se nos dias atuais, a ciência humana ainda rasteja tentando obter
respostas para sua justificar sua presença neste pequeno planeta, contido numa
uma galáxia perdida nos confins do universo, não seria muita pretensão de
alguns homens se arvorarem a dizer como foi o princípio e como será o final dos
tempos?
As religiões e seitas ao querer moldar o pensamento
humano e o mundo de acordo com suas conveniências, predestinando o futuro do
homem, não estariam propagando um temor “desnecessário” a Deus?
As crenças com seus inúmeros messias acabam por confundir
e separar o homem de seus semelhantes. Amparando-se em argumentos vagos, cada
uma construiu uma visão própria do paraíso e do inferno, conceitos controversos
que servem apenas para afligir e confundir os fiéis na busca pela redenção. O
paradoxo consiste no fato de que ao crer o homem deliberadamente ignora a
verdade, pois, se predispôs a acreditar naquilo que lhe é transmitido,
doutrinado, ou seja, a mente humana, a razão, não intercedeu refletindo sobre o
benefício ou malefício daquilo que lhe foi imposto, menosprezou seu direito de
escolha e não teve sequer a oportunidade vivenciar ou experimentar sua
veracidade.
Se for crendo que se ascende a Deus, diante dessa fartura
de crenças e seitas, o homem aflito e desnorteado deve se perguntar: qual é a
verdadeira, ao “deus” de que religião ele deverá render suas preces para
alcançar a salvação?
Cabe perguntar: é preciso crer para conhecer a Deus? Crer
em quem?
Talvez seja necessário rever e repensar essa postura humana
e aprender mais sobre as crenças e suas divergências. Ao conhecer e compreender
o papel das crenças o homem se torna livre para pensar além de seus limites,
dogmas e preconceitos. Ele passa a ter a possibilidade de enxergar novos
horizontes e vislumbrar outras possibilidades. Não se trata de ateísmo,
ceticismo ou qualquer outra forma de repúdio a religião, tanto a crença
quanto a descrença, são faces de uma mesma moeda, no seu âmago jaz a rejeição,
neste caso, tal qual o crente, o cético ou ateu, também padece do sentimento de
intolerância e aversão à diversidade e ao pluralismo, privando si mesmo de
conhecer o novo. Remetendo a Nietsche e sua visão particular sobre as palavras,
seria a palavra “deus”, suficiente para representar toda magnificência do Criador
ou representaria somente uma tradução superficial calcada nas aflições e sentimentos
humanos? Como transcender ao seu significado? O que é real?
Talvez a tradição oral de cada língua traga conotações
diferentes ao significado das palavras, no entanto, o desejo comum de
compreender a “razão” da existência humana fornece vitalidade e alimenta a “esperança
individual” de ascender a Deus e gozar de suas bênçãos. É nessa esperança que convergem
todos os esforços do homem em prol de sua remição. Valendo-se somente do
significado de uma palavra, o homem converte o propósito de sua vida em um
punhado de palavras que adornam outras e, por conseguinte, constroem histórias
que se perpetuam mantendo sua finalidade primordial, iludir, supondo que a
palavra não é o real, mas somente uma representação dele.
A graça das palavras está em permitir ao homem que
registre sua trajetória através dos tempos, escrevendo sua história. É pela mão
do homem que elas são manuseadas e utilizadas para se adequarem aos anseios dos
escribas que governam suas penas. A palavra é mais que um meio de comunicação,
ela é instrumento de poder, de manipulação, que despensa até as mídias, porque
pode ser oral, como muito bem fazem os políticos. Temer o poder das palavras
seria sensato ou apenas um exagero? Palavras soltas nada significam, mas se não
contiverem uma mensagem... Este é o propósito, poder transmitir alegrias,
dores, verdades e mentiras.
O texto que está diante de vossos olhos caro leitor, é de
fato um texto, e isso é uma “verdade” irrefutável, não é? Ninguém, em seu juízo
perfeito, seria “louco” de negar que seja. Então seria possível dizer que a
palavra “texto”, aqui empregada, sintetiza a verdade, no entanto, palavras que
se referem aos sentimentos tem uma compreensão muito íntima, não se pode ver ou
tocar o que representam; não se pode apontar para o amor ou a tristeza e
afirmar que isto ou aquilo seja amor ou tristeza, quando citadas, analogamente
o cérebro humana constrói associações com “experiências individuais” de amor ou
tristeza, já vivenciadas, para ser capaz de sentir e entender seus
significados. Ao se referir à palavra “deus”, o homem vai se reportar a quê, a
crença que sacraliza as palavras atribuindo lhe verdade, ou a si mesmo? Como se
portar diante da palavra “deus” se cada religião tem uma imagem própria e
explicações divergentes sobre a “coisa” designada pelo significado dessa
palavra?. O que pode ser aplicado a Deus? Certamente cada crença a fará a sua
maneira, fundamentada na esperança de que Deus seja desta ou daquela forma.
Esperança alimentada pelo medo e pelo temor que muitos seres têm em torno de
suas angústias, aguardando que alguém possa salvá-los dos “pecados” cometidos nesta
terra e livrá-los do purgatório.
Segundo o psicólogo francês Gustave Le bon, “A esperança
é filha do desejo, mas não é o desejo.”, para ele a esperança induz a crença
que alimenta a realização do desejo. Qualquer pessoa pode desejar o que quiser,
muito embora não existam garantias de que tal anseio se realizará, apenas a esperança
de que possa acontecer. A esperança gera a expectativa que consiste na passividade
da espera, porque geralmente está além das capacidades ou recursos daquele que a
nutre, acalentando a possibilidade de sua realização. A ilusão da esperança
alimenta a fornalha do temor, ao lançar mão dela, o homem o faz subjugado pelo
medo oriundo da insegurança de perder de algo que deseja para si, mas que teme
não conseguir alcançar ou independe de sua vontade manter. Sempre haverá mercadores
da esperança dispostos a acudir os aflitos, e se uma não for bastante,
inventarão outras, prontas para atender as pretensões daqueles que se acham pecadores.
O advogado Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres
escritores do Império Romano, argumentava que os homens submetiam suas vidas ao
governo do medo, menosprezando a prudência que repele o temor e faculta a
descoberta. Ao tentar combater seus flagelos espirituais, insiste em superar suas
fraquezas temperando seus receios com esperanças que os enganam e apaziguam vossos
temores. Sobre o medo e a esperança escreveu:
Estabelece equilíbrio, pois, entre a esperança e o temor;
sempre que houver completa incerteza, inclina a balança em teu favor: crê no
que te agrada. Mesmo que o temor reúna maior número de sufrágios, inclina-a
sempre para o lado da esperança; deixa de afligir o coração, e figura-te, sem
cessar, que a maior parte dos mortais, sem ser afetada, sem se ver seriamente
ameaçada por mal algum, vive em permanente e confusa agitação. É que nenhum
conserva o governo de si mesmo: deixa-se levar pelos impulsos, e não mantém o
seu temor dentro de limites razoáveis. Nenhum diz:
- Autoridade vã, espírito vão: ou inventou, ou lhe
contaram.
Flutuamos ao mínimo sopro. De circunstâncias duvidosas,
fazemos certezas que nos aterrorizam. Como a justa medida não é do nosso
feitio, instantaneamente uma inquietude se converte em medo.
Séneca, in 'Dos Reveses'
Nem é de admirar que assim seja: ambos caracterizam um
espírito hesitante, preocupado na expectativa do futuro.
A causa principal de ambos é que não nos ligamos ao
momento presente antes dirigimos o nosso pensamento para um momento distante e
assim é que a capacidade de prever, o melhor bem da condição humana, se vem a
transformar num mal. As bestas fogem aos perigos que veem, mas assim que
fugiram recobram a segurança. Nós tanto nos torturamos com o futuro como com o
passado. Muitos dos nossos bens acabam por ser nocivos: a memória reatualiza a
tortura do medo, a previsão antecipa-a; apenas com o presente alguém pode ser feliz!
Séneca, in 'Cartas a Lucílio'
A luz da reflexão e após apartar os fantasmas do
dogmatismo, é muito fácil questionar a palavra “deus” e seus significados, a inquietude
decorrente desta ação “consciente”, pode culminar em alguns questionamentos,
entretanto, estes suscitarão uma série de outros, basta pensar de maneira isenta
e minuciosa para que cada um mergulhe sua mente num turbilhão deles.
Será que o homem adora uma ilusão construída por ele e
não a Deus?
Se cada religião criou para si um Deus que venera, e está
realmente fundamentada em ensinamentos que profetas e messias receberam deste
Deus ou da própria encarnação dele, onde esta a Verdade?
Qual “palavra” escrita em meio a tantos livros sagrados poderia
conter a Verdade ou seriam todos utopia?
Seria possível que um livro contivesse ”toda” verdade
sobre Deus?
Quem poderia libertar o homem da “palavra” e de sua própria
ilusão?
Segundo o pensador e filósofo indiano Jiddy Krishnamurti,
é natural que após questionar-se de maneira tão contundente e profunda o ser humano
se pergunta: “Se não há ilusão, o que resta?” e responde, “apenas o que é”, “o
que é, é o que há de mais sagrado”. A simplicidade da resposta do pensador
indiano continua alimentando a dúvida, ele esclarece:
“o que é, é o que há de mais sagrado, leva a muita
incompreensão, porque não percebemos a verdade que ela encerra. Quando se
enxerga que "o que é", é sagrado, não se mata, não se faz guerra, não
se espera nada, não se explora.”.
Neste caso ao
assimilar essa “verdade” o homem desperta para mudança, para transformação, mas
não de maneira impositiva ou doutrinária, e sim por uma vontade interna, um
estado de consciência que o fez aperceber-se da necessidade dessa vicissitude.
Não é preciso “crença” para ser bom, para se almejar a paz
do estado de espírito. Negar essa premissa é afirmar que todos os ateus seriam
maus, e não só eles, também os crentes, pois, para aqueles que professam outra
crença, todos os restantes lhe parecem infiéis, consequentemente toda
humanidade estaria condenada. E já não está? A credulidade e a propensão ao
engano não levam a verdade, somente a ilusão. Sacralizar divindades serve
apenas para afastar o homem de si mesmo, semeando a discórdia em torno do Pai e
rebaixá-lo ao comum, ordinário, mundano, pecador, do “altíssimo” Deus; para que
pessoas que se vangloriam mais puras, portadoras da verdade, contudo, iguais a
todas as outras, se aproveitem da boa fé alheia para lhes conduzir como
pastores, para depois tirar-lhes o leite, a lã e finalmente a carne. É necessário
tanto sofrimento para almejar a salvação ou as pessoas simplesmente deixam-se levar
pela tradição?
O trecho abaixo reproduz parte do pensamento do pensador
e filosófo argentino Carlos Bernardo Gonzáles Pecótche, que possuía uma
compreensão muito peculiar sobre Deus e a verdade, afirmava ele: “Essa Grande
Verdade é a concepção suprema de todo pensamento ou pensamento de Deus, e é, ao
mesmo tempo, Deus, porque é a razão de ser e a causa eficiente de todas as
coisas. Se buscarmos a razão de ser de nossa entidade humana faremos isso
seguindo tal pensamento até a própria raiz de nossa origem, e a própria raiz de
nossa origem está, logicamente, no que denominamos Grande Verdade. De modo que,
buscando-se cada um a si mesmo, encontrará no final de sua busca a seu próprio
Criador, e se converterá, ao identificar-se com Ele, em criador de si mesmo e
em colaborador direto da Criação.”
Felizmente, apesar de serem subliminarmente impostas, as
religiões não obrigam seus seguidores a manter os seus vínculos e permanecer em
seus templos, quem deseja se afastar é “alertado” para os riscos de se
distanciar de Deus, que ironicamente é benevolente e onipresente segundo elas
próprias. O máximo que fazem é banir ou demonizar aqueles que se retiraram de
sua sombra. Mas, não há porque recear, aos apóstatas arrependidos as portas estarão sempre,
convenientemente abertas, para acolher novamente o cordeiro desgarrado. Em tese,
qualquer pessoa está “livre” para alçar voos para outros campos, e experimentar
novas seitas ou crenças, experimentar novos sabores de “Deus”, talvez mais
palatáveis, onde poderão conhecer novas “verdades”, salvar o espírito e granjear
os frutos da felicidade que lhe serão prometidos em conquistas financeiras e
materiais, sem perceber, contudo, que está voejando em círculos. Hoje o proselitismo campeia solto tentando sempre arrebanhar novos
fiéis às “obras”. É um mercado ávido em franca expansão, sempre imbuído das
melhores intenções, onde sacerdotes afiam suas oratórias para encantar o fiel
como sendo os passaportes da redenção, porém atentos as suas aflições, preocupados em perdê-lo para o templo vizinho que também anseia seduzi-lo para arrebanhá-lo. Em compensação, as pessoas podem, se quiserem, utilizar-se da razão e valerem-se do questionável “livre-arbítrio”, procurando respostas em si mesmas, avaliando sua conduta, observando o mundo a sua volta e a forma
como interagimos com ele e com os seres que dele fazem parte. Permitindo-se a
observar “o que é”.
Quem ousa ir além da esperança busca liberdade. Não está a procura por um Criador parametrizado pelas religiões, maculado pelas
deficiências humanas, o Etéreo feito homem; deseja senti-lo simplesmente e saber
que essa força é a pura essência do todo, imanente ao próprio universo, para poder despir-se
de si mesmo, pensar e experimentar a alegria de viver sem os temores e as
angústias dos preconceitos, aprender que sempre é possível transformar,
aprimorar e melhorar aquilo que somos e não aquilo que pensamos ser, ou então,
continuaremos atados à esperança, a complacência inadiável do
tempo, e testando a paciência infinita de Deus.
A carta reproduzida abaixo, surpreendentemente bela, é do
filósofo holandês Baruch Spinoza e certamente, merece ser lida.
Deus falando com você.
Para de ficar rezando e batendo no peito!
O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e
desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes
de tudo o que Eu fiz para ti.
Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que
tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos
lagos, nas praias.
Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Para de me culpar da tua vida miserável:
Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um
pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes
expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria.
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada
têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no
olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho...
Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como
fazer meu trabalho?
Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te
critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar.
Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de
prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em
ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem
te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos
meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de
lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar,
que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para
ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua
vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no
caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que
precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem
castigos.
Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.
Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu
ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas
posso te dar um conselho.
Viva como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar,
de amar, de existir.
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade
que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se
foste comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste...
Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Para de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em
ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando
agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no
mar.
Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas
que Eu seja?
Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua
saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria!
Esse é o jeito de me louvar.
Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o
que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e
que este mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro
de ti... aí é que estou.