terça-feira, 31 de julho de 2012

Tributo ao Vagabundo


   Embora não se saiba etimologicamente a origem precisa da palavra “vagabundo”, deduz-se que seja oriunda daquele que vagueia, do nômade, do errante, do andarilho. Lógico que existem outros sinônimos menos nobres para ela, mas não é o objetivo deste texto.

   Partindo da sinonímia dos termos acima e nos fixando naqueles que não são depreciativos, encontramos significados que atribuem ao nômade, ao errante e ao andarilho, a condição daquele que não tem pouso determinado, não se acomoda, vagueia de maneira incerta, sem destino, um viajante. É este ser que passa sua existência procurando algo, sem se preocupar se outros vão critica-lo ou não, abrindo seu próprio caminho, buscando encontrar algo sem saber bem o quê, mas persistindo na caminhada da vida, ignorando o passar do tempo, tem em mente apenas uma coisa, a convicção e a esperança de que um dia encontrará a solução que procura.

   Certamente esse "vagabundo" sofreu e vem sofrendo todo tipo de preconceito por parte daqueles que algum dia aprenderão a respeitá-lo, lamentavelmente esse comportamento faz parte da cultura humana. Sempre que alguém ousa vislumbrar novos horizontes, descortinar a "verdade" para outras pessoas menos atentas, colocando em xeque valores instituídos e controversos, a sociedade tende rechaçar esses elementos desqualificando-os, perseguindo suas ideias até momento em que os mais sensatos começam a digeri-las, entendo a substância de seu conteúdo, propagando para o mundo a antes desditosa novidade.

   Alguns dizem que aquele que “vagabunda” tem tempo de sobra porque não tem o que fazer. Outros dizem de uma forma mais sutil, que ciclano está “filosofando”, em uma alusão clara a palavra acima. Se considerarmos que o trabalho de filosofar pressupõe uma atividade intensa do pensar, focado sempre na busca por respostas para interpretações nem sempre palpáveis da realidade em que se está inserido, raciocinando sobre o como, para e o porquê das coisas, com o nobre propósito de emitir um parecer razoavelmente sensato sobre suas investigações, indiferentes às críticas e opiniões alheias, não há motivos para desdenhá-los.

   Retirar-se para meditar, refletir ouvindo apenas os sussurros da mente não é tão simples quanto aparenta. Infelizmente, a maioria de nós não o faz, talvez por desconhecimento, ou porque se justifica, alegando que "nunca" tem tempo para isto ou aquilo. É muito simples encontrar subterfúgios para fugir da conversa com si mesmo, já que qualquer um pode adotar um pensamento alheio como se fosse seu, assumir a opinião da "massa" é mais conveniente, fácil e prático. Para que reagir e enfrentar os revezes da mudança de postura quando se pode ser dócil?

   Havemos de ter coragem, pensar por si só, para que ficar incomodado se algum ignorante quiser taxá-lo de vagabundo ou excomungá-lo, inevitavelmente este é um risco que terá de correr, porém, no seu íntimo reinará a paz da certeza do que realmente é, e do bem que propõe a fazer a si e aos outros, pensando, escrevendo, difundindo suas percepções a respeito de “Tudo”, sem medos ou formalismos. Portanto, meus caros “vagabundos”, valentes pioneiros, continuem vagando pelo universo dos pensamentos e das interpretações, brindando aos não vagabundos as ideias e compreensões que estes atarantados não tiveram de tempo de realizar.

Dedico este texto a um respeitável amigo que se intitulou “vagabundo”. Grande abraço.

Ceticismo Inteligente


Desde que o ser humano começou a "pensar", ou seja, passou a utilizar o raciocínio em benefício próprio, alguns, mais perspicazes, começaram a tirar vantagem de suas faculdades mentais mais aprimoradas para liderar e se destacar frente ao restante do grupo munidos de menos predicados. Dotado da razão, o homem primitivo começou a organizar sua sociedade, então precisava gerir esse grupo, daí surge a necessidade de criar mecanismos capazes de estabelecer um comportamento social para "civilizar" a "massa". Desprovido do conhecimento científico, por conveniência, percepção ou algum motivo inexplicável, começou a intuir sobre a existência de algo metafísico, divino, um ente superior capaz de explicar todas as indagações que sua inteligência suscitava e não era capaz de compreender e menos ainda de explicar. Poderia ser pura e simplesmente a manifestação de um interesse particular ou realmente pairava sobre sua mente uma suspeita sobre sua origem desconhecida? Consequentemente o homem vem experimentando ao longo de sua história neste planeta as mais variadas crenças, a adoração ao fogo, ao sol, aos animais, criaturas antropomórficas, etc. A ciência antropológica é fartamente recheada de registro que atestam a variedade de seres e objetos de adoração que foram adotados durante fases da história humana, esse períodos podem durar poucos anos, dezenas, centenas ou milhares. É bastante provável que sempre haverá uma crença disponível ao homem durante a existência de sua espécie. Cabe perguntar, se foi facultada ao homem a inteligência, prerrogativa que lhe concede a razão, a propensão a credulidade em divindades teria se originado de onde e por quê? Qual o segredo contido nos arcanos do cérebro que despertaram a necessidade de encontrar o criador? Seria a criatura humana um ser realmente metafísico, dotado de corpo e espírito? A recorrência deste tema também inspirou a sétima arte, vários filmes de ficção científica aludiram ao assunto em diversas "fitas", como no longa metragem que estreou a saga Jornada nas Estrelas nas grandes telas, que narra a aventura de uma máquina terrestre (sonda espacial Voyager1) que vagando pelo espaço adquire "consciência" e parte  pelo universo afora em busca de seu criador, até chegar às fronteiras do sistema solar e finalmente à Terra.

Incontinente, a inteligência suscitou outros questionamentos que alertavam a razão que não se deve conformar ao comodismo das respostas prontas derivadas das crenças. Cientes desse sentimento, filósofos gregos deram origem a uma corrente de pensamento intitulada “ceticismo”, que consistia basicamente na procura do saber verdadeiro, que não se contentava com as verdades dogmáticas, ansiava por uma explicação sensata para os fenômenos da natureza que o homem observava a sua volta.

De acordo com os dicionários, é possível citar alguns significados para "ceticismo".

sm. Qualidade de quem é cético; atitude daquele que duvida de tudo; descrença.
Filosofia. "Doutrina" que se baseia na suspensão dos juízos afirmativos ou negativos, sobretudo em matéria de metafísica: Pirro defendia o ceticismo universal.
Pirro de Élis (360-275 a.C.), filósofo grego e um dos mentores do ceticismo.

Ironicamente a palavra "doutrina" que aparece no significado do ceticismo filosófico, que precedeu o ceticismo científico, têm, no entanto, certa convergência com o significado palavra dogma, que remete a convicção adotada com fé, em síntese, crença.

De fato, o conceito filosófico grego de ceticismo que versa sobre a “verdade” é bastante complexo, principia por afirmar que é praticamente impossível ter alguma certeza absoluta em relação a verdade, por outro lado, querer ignorar deliberadamente a paranormalidade ou o metafísico, contraria sua premissa básica, o da impossibilidade da certeza absoluta, o que não invalida de modo algum a predisposição ao questionamento e a dúvida, que asseguram a liberdade de pensar, opondo-se ao restritivo dogmatismo.

O ceticismo-científico incorporou de seu antecessor a postura crítica diante do mundo e da percepção sobre a natureza das coisas, objetivando a aquisição do conhecimento focado na obtenção de resultados que permitam corroborar ou invalidar certo experimento, conforme preconiza o método científico.

Apesar do conhecimento humano não ser capaz de abarcar todas as respostas que buscamos, limitado pela tecnologia disponível, temos que nos resignar  a essa condição, afinal a onisciência é uma virtude dos deuses, mas estamos avançando e nos desenvolvendo, aprendendo coisas novas, conseguindo compreender cada vez mais e mais, felizmente temos consciência da infindável quantidade de coisas que esperam por ser descobertas e compreendidas. Será que o desespero da sede por respostas e acometidos pela impaciência, poderiam impelir o homem a ir além do ceticismo?

Crença e ceticismo, assuntos ancestrais, controversos e ainda assim tão contemporâneos.  Quais são angústias humanas que fomentam a adoção dessa ou daquela postura, como satisfazer essa necessidade? Uma pergunta difícil de ser respondida? Seria tão simples admitir qualquer coisa a luz dos dogmas, ou então, negar, negar tudo, tanto quanto a admissão, a negação também é simples, prática e imediata. Agora sim, temos duas respostas divergentes para mesma questão.  

O excesso de confiança na crença e o ceticismo extremo possuem uma relação muito mais íntima do que antagônica, essa proximidade se deve a fato que ambos são duros, inflexíveis, ortodoxos e retrógrados. Coexistem em ambos o espírito da intransigência pura, espontânea, aquela capaz de tolher o juízo e paralisar a razão. Dois lados de uma mesma moeda, esse comportamento conduz sempre ao mesmo destino, o da intolerância e do repúdio as diferenças. Muitas vezes essa faceta se apresenta como uma deficiência psicológica, evidenciada quando os portadores dela se sentem pessoalmente ofendidos quando alguém  tenta lhes expor outro ponto de vista. Esta posição destrói a dúvida, mola propulsora da evolução humana e impede a atuação da inteligência como mediadora do conflito entre a crença e o ceticismo. Tanto um quanto o outro, são igualmente maléficos a concepção de um conceito justo e imparcial de nossas percepções humanas. Como uma patologia auto-imune, neste caso, que só pode ser tratada por si mesmo, diagnosticar a própria moléstia e se predispor a combatê-la constitui um grande passo a caminho da cura. Embora algumas evidências sejam mais que óbvias e os argumentos irrefutáveis, a vaidade nos persuadi a insistir no descrédito da opinião alheia, ignorando a prudência e dificultando o restabelecimento da “saúde”. Portanto, é aparentemente "saudável" se manter afastado dos radicalismos, sejam quais forem.

No século XIX, James Russel Lowell, um escritor e poeta estadunidense, afirmou: “Um ceticismo prudente é o primeiro atributo de um bom crítico.”, certamente ele tem razão, o exercício da prudência, exige atenção, cautela, ponderação, esses requisitos são fundamentais para qualquer manifestação sensata da crítica.

Somos naturalmente céticos, uns mais, outros menos, mas ainda assim o somos. Um dito popular retrata muito bem essa postura: “quando a esmola é grande, o santo desconfia”, essa simples frase resumi nosso ceticismo, aquele balizado no bom senso, que alerta para não aceitar gratuitamente tudo que nos é apresentado, mas não somos perfeitos, podemos ser céticos para algumas coisas e crédulos para outras. Encontrar esse ponto de equilíbrio é a parte mais árdua da tarefa, ser suficientemente cético para não cair na ingenuidade e razoavelmente crédulo para não se tornar arrogante. Essa ambiguidade conflitante nos faculta estabelecer parâmetros e filtros para distinguir aquilo que deva ou não ser considerado, se é passível ou não de aprofundamento, algo que realmente mereça uma atenção especial. Quando admitimos essa premissa, nos permitimos, no mínimo, a analisar uma evidência apresentada, e aí sim, sob a luz do entendimento, da constatação, acatar ou ignorar o que nos foi proposto sempre resguardado pela razão, procurando agir conscientemente.

Seria ótimo se fosse tão simples, e os mistérios que ainda não foram explicados pela ciência, abrangidos pelo chamado fenomênico, como aplicar o ceticismo sobre eles? É exatamente sobre esta pergunta que se amontoam uma infinidade de questionamentos do homem e outra infinidade de respostas vazias. Talvez algum dia encontremos todas as respostas, mas enquanto este dia não chega, muitos tem optado pela prudência da neutralidade, aguardando pacientemente que seja encontrada uma resposta sensata, plausível. Existem pessoas que se dizem capazes de ter uma percepção transcendente, felizardos que experimentaram, sabe-se lá como, a subjetiva “Verdade” proveniente do divino, contudo, devemos nos manter atentos para não sucumbir à inércia e ao conformismo, coisa que não nos levará a lugar algum, senão aquele onde já estamos, negando a si próprios a possibilidade de se libertar e quem sabe, encontrar respostas.




sábado, 28 de julho de 2012

Anacrônico



   Essa palavra de origem grega tem significados que nos remetem ao passado e é utilizada com este objetivo na maioria das vezes, porém, ela esconde outro, aquele que a deu origem, o da aversão ao tempo, que denota a inconformidade, a desarmonia. Essa incompatibilidade é demonstrada das mais variadas formas: na mídia, nas artes, nos hábitos, na conduta, nos sentimentos, nas pessoas, nos pensamentos, etc. Esse equívoco temporal consiste basicamente no paradoxo da prática continuada de ritos ou atividades da antiguidade ou de uma determinada época em outro período da história e estão presentes em vários momentos da vida atual.

   Os seres humanos são aparentemente anacrônicos congênitos, desde seu nascimento lutam contra o tempo, ou contra seus efeitos sobre si mesmos. Quando jovens querem adiantá-lo, quando amadurecidos retardá-lo. Dificilmente chega-se a um consenso ou a um meio termo razoável. Embora pareça natural, o anacronismo interfere muito na vida humana. Quem há de não admitir que na sua conduta, não importa qual seja a origem do comportamento, que não sofreu ou sofre a interferência de uma crença, tradição, costume ou princípio fundamentado em outra época, ou num outro instante da história e nunca se perguntou porque o faz? Inconscientes, as pessoas tendem a seguir um conceito cegamente, sem saber a razão do por quê o fazem. Muitos podem afirmar que é por tradição, mas justificativas dessa natureza são tão vazias quanto os argumentos que podem ampará-las, geralmente verdades dogmáticas, duvidosas, que não encontram eco no mundo real, mas que tem sua veracidade respaldada pelo inquestionável divino. A adesão a esses valores é comum, e talvez permaneça assim enquanto existirmos, afinal é fácil argumentar que não seria possível evoluir sem se fundamentar nos conhecimentos angariados no passado, a duras penas. Geralmente, as bases do comportamento moral de um povo são como o vinho, ganham "corpo" com o transcorrer dos anos e demandam um longo período de tempo para uma boa maturação. Mesmo que as culturas humanas sejam fruto de um processo lento e sedimentar, ele não é infinito. Realmente sabe-se que ninguém seria capaz de criar ou assimilar todo conhecimento de um povo de um dia para o outro, o conhecimento é acumulativo, residual, vai sendo transmitido geração após geração, e paulatinamente vai se depositando nas mentes dos jovens para que no futuro façam bom ou mal uso dele, entretanto, a sensibilidade, mais aflorada nas mulheres, e que tantas vezes auxilia e norteia as atitudes humanas, não é observada, passa despercebida. Não se deve ignorá-la em detrimento do rito, da tradição, ou até mesmo da razão e do conhecimento. Qualquer tipo de adestramento mental é pernicioso, ele cerceia o pensar, cristaliza a verdade, impossibilita a percepção do todo e turva a visão da realidade. Apesar de ser discutível,  a misteriosa intuição desperta, incita e ativa as pessoas para o questionamento.

   A sensibilidade é uma faculdade humana que pode e deve ser cultivada, pois aguça a percepção e permite enxergar mais além. Agora, neste século XXI, existem vários exemplos gritantes da defasagem evolutiva humana, em muitos casos ela decorre da manutenção de rituais e doutrinas que condicionam o comportamento humano contrapondo-o não só a evolução científica e tecnológica, mas atrelando pessoas a hábitos, penitências e sacrifícios inócuos em nome da crença, como se isso constituísse a vontade de Deus. O sucesso no empreendimento da vida é uma tarefa meramente pessoal, terrena. Ao atribuir ao Eterno os êxitos obtidos aqui, o homem subestima a si mesmo, diminui-se frente a empreitada de viver e negligencia os esforços empreendidos para vencer a batalha de cada dia com dignidade, menosprezando seu valor e o próprio trabalho.

Época de antagonismos, marcada por descompassos, onde a ciência e tecnologia coexistem com a violência e a brutalidade. Embora sol nasça para todos, infelizmente brilha mais para alguns. Pessoas que tiveram o privilégio do acesso e priorizaram o saber, estão mais aptas e menos sugestionáveis que aquelas menos favorecidas, podendo tornar seus sonhos numa realidade palpável. Através da educação e do saber, é possível alcançar a alforria necessária para que menos pessoas se deixem influenciar por normas e valores incompatíveis a este tempo e que não condizem mais a realidade. O "saber" provê segurança e confiança em si mesmo, faz com que indivíduos antes indefesos não se deixem manipular por outros, como aconteceu com os escravos libertos que não partiam, não porque não tivessem para onde ir, mas porque desconheciam a liberdade. Livrar-se de pessoas que se aproveitam da ingenuidade alheia é uma prerrogativa básica para acabar com orfandade mental que aflige o homem “moderno”, coisa tão evidenciada por aqueles que abominam a liberdade de pensar, principalmente quando alguém demonstra querer ou pretende caminhar sozinho, estão sempre a espalhar o "medo" no intuito de desencorajar a tomada de uma decisão primordial, a de conceder a si mesmo o direito da descoberta de suas próprias verdades e caminhos, um desafio que é único, singular e pessoal.

   Desde o surgimento do papel impresso, coisa que possibilitou o acesso das pessoas a forma de pensar das outras, o ser humano tem a possibilidade de de confrontar ideias, repensar e elaborar as suas, aprender a “andar” sozinho, claro que haverá percalços e tombos durante o trajeto, mas a vida é assim, e não é de agora, isso sempre nos acompanhou desde os primórdios da humanidade até os dias de hoje. O problema é descobrir por que não existe sincronia entre o desenvolvimento pessoal, intelecto e ciência, onde está a divergência? A inteligência humana permitiu alcançar o espaço, descobrir as partículas subatômicas, fazer coisas impensáveis, será que não esta na hora de acordarmos para a realidade e usufruir dela? Despir-se dos preconceitos e lançar mão da fartura de informações a que temos acesso para criar nossos próprios conceitos, valores e compreensões, quebrar paradigmas e rever nossas posturas diante da vida à luz da sensatez. 

   Ao nascermos, felizmente ou infelizmente, a areia da ampulheta da vida começa a escorrer, o tempo não para, se estamos conscientes disso é outra história, o fato é que ela é finita, portanto, devemos aproveitá-la com honestidade e da melhor maneira possível, mesmo que estejamos contaminados pelo anacronismo, mas pelo ao menos teremos a oportunidade de fazer o bem, de progredir, de ser feliz, e se estes motivos não forem bastantes, não sei o quê mais poderá sê-lo.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Paradoxo Científico


   Muito tem se falado sobre o Método Científico, aquele através do qual se pode alcançar a verdade. Tão grande é a força dessas palavras que muitos, vaidosamente, utilizam-se delas até para promover técnicas de estudo, ideologias e doutrinas a um posto que não lhes compete. Mas o objetivo aqui é outro, o de trazer algumas reflexões sobre o tal método.

   Primeiramente é preciso definir o que seja ciência. Estão listadas abaixo algumas definições segundo os dicionários.

 -> ciência é o conjunto organizado de conhecimentos humanos relativos a certas categorias de fatos ou fenômenos. Toda ciência, para definir-se como tal, deve necessariamente recortar, no real, seu objeto próprio, assim como definir as bases de uma metodologia específica.

 -> ciência, conjunto de conhecimentos humanos a respeito da natureza, da sociedade, do pensamento, adquiridos através do desvendamento das leis objetivas que regem os fenômenos e suas explicações lógicas, esta seqüência denomina-se: progresso da ciência.

Uma vez esclarecido o que é ciência, temos que esclarecer o que é metodologia científica.

   A metodologia científica originou-se no pensamento de René Descartes, posteriormente o físico inglês Isaac Newton, embora empiricamente, corroborou no desenvolvimento do método científico. A proposição de Descartes consistia em alcançar à verdade por meio do questionamento sistemático e da decomposição do objeto em estudo me partes menores. Essas bases definiram o que viriam a ser os fundamentos da pesquisa científica contemporânea. Partindo do menor para o maior, procurando compreender as coisas simples, e gradualmente abarcar mais variantes ao processo, aumentando a complexidade, até conseguir compreender o todo.

   O método científico se caracteriza por um conjunto de regras básicas, fases do processo que determinam a ordem de como deverão ser realizados os experimentos de acordo com sua natureza. Essas fases constituem uma referência, para não se alternar ou saltar uma ou outra fase durante o processo de pesquisa comprometendo os resultados do objeto em foco. Daí decorre o método que orienta a execução de um procedimento que objetiva produzir o conhecimento cientifico. É interessante ressaltar que método científico pode se suceder infinitas vezes, esta seqüência que permite o refinamento sucessivo do processo, em suma, sua evolução, ampliando cada vez mais os conhecimentos a respeito do objeto em estudo.

   A dedução, ou método dedutivo, diferentemente da indução, pressupõe a observação isolada dos dados, partindo da exceção para o todo, muito praticada nas ciências naturais e nas estatísticas matemáticas. Entretanto, a indução também pressupõe a probabilidade, isto é, já que tantos se comportam de tal forma, é muito provável que todos se comportem assim (amostragem).

   Posteriormente outro filósofo Karl Popper, provou que nem a dedução e nem a indução puramente serviam ao propósito em questão o de -“compreender a realidade conforme esta é e não conforme gostaria-se que fosse” – a ciência deve considerar o falseamento, ou seja, deve apresentar uma hipótese e testar suas variantes hipotéticas procurando não apenas evidências de que ela está certa, mas também as evidências de que ela está errada. Quando uma hipótese sucumbe aos testes, conclui-se que ela foi falseada, caso contrário, corroborada. Popper constatou a dinâmica científica, afirmando que a ciência é um conhecimento provisório, que funciona através de sucessivos falseamentos. Nunca se exaure completamente uma teoria científica.

   Thomas Kuhn percebeu que os paradigmas são elementos essenciais do método científico, sendo os momentos de mudança de paradigmas, aqueles chamados de revoluções científicas. O método científico é construído de forma que a ciência e suas teorias evoluam com o tempo.
Apesar da distinção dada aos objetos em estudo, existem certos elementos que caracterizam o método científico: conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade.

   Existem outros vários outros métodos encontrados em diversas áreas, como exemplo: os utilizados na filosofia, na física, na matemática, na teologia e até mesmo nas religiões. Cabe ressaltar que alguns destes, devido as suas origens indeterminadas, não podem ser confirmados ou negados. Sua comprovação está vinculada a tecnologias ou experiências ainda não disponíveis no mundo atual, outras a formação moral e as crenças de cada indivíduo.

   Para muitos autores o método científico nada mais é do que a lógica aplicada à ciência.

   Observe que o conhecimento, seja sua natureza qual for não é algo simples de se obter, é necessário sacrifício, horas de estudo dedicadas para conquista do mesmo, tem ser realizado sob a tutela do bom senso e da razão, aquela que nos capacita a aprender, mas também a questionar, não se deve acatar um conhecimento qualquer mecanicamente, sem questioná-lo, comprovar sua eficácia, testá-lo infinitas vezes, averiguar seus resultados, e por fim constatar se o objeto ora estudado está consistente com a realidade, outorgando-lhe uma verdade que possa  e deva ser aceita, acreditada.

   Ótimo, já é possível conceber algumas reflexões sobre o que seja o método científico. Dessas compreensões decorre outro questionamento. Como colocado anteriormente, foram expostos os mecanismos de aplicação do “método” sobre “a coisa” observada, que leva a dedução clara que aquilo que não pode ser enquadrado nos moldes da metodologia científica constituir-se-ia em crença. Por outro lado o método científico se fundamenta também na experimentação, através da repetição de um determinado processo que faltamente culmina num resultado igual ou similar ao obtido anteriormente. Este é o ponto, o paradoxo científico, aquele que contradiz a si próprio, que mesmo utilizando um método científico e obtendo resultados, não podem ser aceitos, são impalpáveis, sentidos apenas por aqueles que o testaram em si mesmos.
   
   Destaque-se que estes resultados não frutos de uma credulidade, fato este comprovado pela grande quantidade de cientistas que tem sucumbido aos seus próprios questionamentos a respeito da razão de “Tudo”. Nos anos 70 três cientistas se destacaram mais nesse campo e trouxeram à tona as famosas teorias do Princípio Cosmológico Antrópico, Brandon  Carter - 1974, John D. Barrow e Frank J. Tipler -1979, os dois últimos seguiram um viés mais teológico.

   Essas reações ao determinismo científico impregnado pelo ceticismo, que por vezes distorce a sensibilidade e quiçá a razão, manifestadas dentro seu próprio ambiente de forma ampla e evidente, expõe as incertezas a que estão sujeitas a ciência humana. Tendo em mente que ainda não podemos ter respostas para explicar os vários questionamentos humanos, partiu-se então para outros caminhos, o da metafísica, instituída por Aristóteles, que embora calcada na abstração filosófica, vem se constituindo numa alternativa a carência de respostas. Não que se deva partir do ateísmo pragmático, para a crença no divino, como aconteceu com o evolucionista Russel Wallace, mas sim, continuar a busca de respostas.

   Não é segredo algum e muitos sabem dos grandes investimentos feitos por centros de pesquisa e governos de todo mundo a busca de respostas, seja lá fora, no cosmos, ou aqui, pesquisando a si próprio, ansiando por desvelar os mistérios da vida que se encerram dentro de cada um. Nos idos de 1930, Joseph Banks Rhine, iniciou uma série de estudos para tentar explicar os fenômenos paranormais, a parapsicologia. Seguindo os paradigmas da metodologia científica, ele buscou formular uma maneira de experimentar, testar, averiguar e confirmar os resultados obtidos com suas experiências. Desta forma, conseguir atribuir aos fenômenos paranormais uma legitimidade que configurasse a veracidade de seus experimentos.

A psicologia moderna classifica estes fenômenos para-psíquicos como PSI, e os subdivide em três: psi-gama, psi-kapa e psi-theta, que contemplam desde a telepatia, pré-cognição, psicocinesia, até a comunicação além vida.

  Apesar de tudo isso, ainda estamos longe de alcançar as respostas para nossos questionamentos, mas partir do pressuposto que aquilo que não pode ser provado cientificamente não consiste na verdade, configura-se um preconceito, que por si só demonstra o conflito, como poderia a ciência prejulgar algo, quando sua premissa fundamental é exatamente a contrária, que se fundamenta na busca por explicações.
   
   O método científico é de fato importantíssimo e não pode ser relevado em momento algum, respeitando sua formalidade, mas segui-lo cegamente sacralizando-o como único meio de se alcançar a verdade plasmaria uma crença, como tantas outras que ele tenta contrapor. Quem sabe possamos esquecer um pouco de nossa racionalidade científica, e assim como fazemos com os nossos sentimentos, admitir humildemente, que talvez não sejamos únicos, que o universo seja múltiplo como alega a física quântica, e até mesmo, que Deus exista.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O Peregrino


   Ao se observar de forma sistemática e isenta as doutrinas que assolam a sociedade humana ao longo da história, é bastante provável se alcançar algum consenso e elaborar uma análise crua de alguns de seus aspectos, sem, no entanto, pretender criticar qualquer uma delas. Saliente-se que algumas prestam um serviço bastante positivo aos seres que nelas ingressam, contudo permanecem contaminados pelo germe da crença. Certas correntes doutrinárias apresentam um conjunto de técnicas e metodologias muito interessantes e que de fato são capazes de serem aplicadas às pessoas que as praticam surtindo efeitos muito positivos na personalidade dos praticantes. Apesar dos benefícios, seria justo doutrinar? "Melhor que dar o peixe, é ensinar a pescar." Parafraseando este dito popular, um estimado conhecido cunhou a frase, "Melhor que ensinar a pescar, é ensinar a pensar."*, então, por que não ensinar a pensar, pura e simplesmente?

   Como  conceituar o que seja uma coisa boa ou devotada para o bem, como averiguar o relativo propósito do bem? Partindo do princípio de que qualquer empreendimento pode ser de bem, e que ele resulta de uma ação ou trabalho bom, podemos inferir logicamente que se ele se propõe a fazer coisas boas, balizadas na moral, nos bons costumes e nos princípios de família; demonstra então, ser este, um empreendimento do bem, correto. Ainda assim, cabe perguntar: os pressupostos acima são realmente verdadeiros ou algo questionáveis? O fato é que muitas obras ao longo da história da humanidade se diziam de bem, no entanto, impuseram aos seguidores códigos de conduta nada recomendáveis.

   Mesmo no seio das religiões, partindo-se da premissa de que aparentemente todas são obras de bem, é fácil perceber que existem os extremismos. Os extremos geralmente são referências do exagero. Geograficamente falando, são os pontos mais distantes do centro de uma área demarcada qualquer. Entendendo-se que o centro pode ser considerado o “meio ou a metade”, percebe-se que é justo situar algumas doutrinas ao centro, ou seja, distam dos extremos, mas isso não isenta seus praticantes da credulidade, aquela que induz seus adeptos a acreditar naquilo que lhes é “ensinado”, crentes de que estão o fazendo sob a atuação da consciência. Indaga-se, ao "trabalhar" na difusão destas obras por acaso não seria outro extremo, o proselitismo fomenta a própria intolerância, já que busca somente desacreditar qualquer outra fonte de sabedoria que não convirja com os ensinamentos praticados nesta ou naquela corrente ideológica. Essas características não configuram um desrespeito à opinião alheia, uma perseguição cega a qualquer “heresia”? A resposta é clara, não?

   Há de se admitir que o conhecimento e as informações são extremamente necessários para que a elaboração de um juízo de valor seja imparcial, requisito fundamental  para se julgar qualquer coisa. Quem se propõe a buscar a si mesmo deve considerar cada aspecto apresentado e ponderá-lo, vislumbrando obter algum subsídio íntimo para decidir seu destino embasado pelos fatos que observou, desta forma permitir-se a avaliar individualmente, cada aspecto, consentido ou refutando aquilo que assimilou.

   Ao executar essa tarefa particular, confrontar as compreensões pessoais e interpretações sobre os assuntos já vivenciados, talvez culminem na concepção de algo mais concreto, consistente. É importante observar que a leitura de qualquer documento escrito ou a audição de um palestrante pressupõe a atuação da razão, do bom senso, da maturidade, do pensamento livre e independente, desvencilhado de sentimentos passionais.  Quem sabe assim, será possível a ao peregrino julgar de forma neutra e refletida o conteúdo de sua busca, concebendo seus próprios conceitos e dando a si mesmo a oportunidade de uma apreciação sensata.

   Assuntos dessa natureza servem apenas aos propósitos individuais daqueles que insistem em  buscar alguns esclarecimentos, ou para aqueles que almejam alguma explicação sobre as dúvidas permanentes, aquelas que levam o homem a perseguir as respostas para sua existência e as suas origens imateriais.

   Peregrinar é algo pessoal e contínuo, e quem vai delimitar essa aventura ou até onde essa jornada vai chegar, é você. 


* a frase citada acima é de autoria de Nagib Anderáos.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A intolerância religiosa



“A Intolerância Religiosa
Drauzio Varella


Sou ateu e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos.

A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres.

Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o destino depois da morte. A possibilidade de que a última batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.

Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais.

Jamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos à interferências mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado, para eles a vida eterna não faz sentido. Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar.

Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode discordar de sua cosmovisão, devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias.

Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?

Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na encruzilhada, quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta, ao ouvir que não há milhares, mas um único Deus?

Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de hereges ou infiéis perderam a vida?

O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções. Não é outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do diabo. Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome d’Ele sejam cometidas as piores atrocidades.

Os pastores milagreiros da TV, que tomam dinheiro dos pobres, são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares, porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus seriam considerados mensageiros de satanás.

Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes nos quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como demonstraram os etologistas.

O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade — quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.

Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.

Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta.

Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam.”



O texto foi publicado em http://drauziovarella.com.br/wiki-saude/intolerancia-religiosa/ e por julgá-lo relevante a referida reflexão é que o reproduzo abaixo.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O traidor de si mesmo



Muitas vezes o ser humano entorpecido pelas crenças não percebe seus movimentos mentais, deixa-se levar por elas como se estivesse hipnotizado, porém desperto. Mesmo aquele que se acha imune ao poder destrutivo das crenças pode sucumbir frente a elas sem ao menos desconfiar. É a certeza dessa falsa imunidade que faz com que muitos destes seres, crentes de si mesmos, se considerem mais capazes de compreender o mundo a sua nossa volta, fazendo germinar dentro de cada um a moléstia da soberba.

Em geral, o traidor de si mesmo é hábil com as palavras, voz firme e convincente, ardilosamente é capaz de utilizar a pena como se empunhasse uma esgrima e ao falar usa língua como a víbora, que cheira o ar a busca de sua vítima. Prolatando sua verdade ou registrando-a sobra à lousa, o faz de maneira tão ferina que faz verter o seu próprio veneno e este escorre caudaloso sobre si empoçando a sua volta, mas ele não o percebe, pois vê-se espelhado nela, assim como Narciso que acha feia a imagem que não o reflete. Cego pela sua sede de demonstrar-se detentor da razão ignora que faz transparecer as nuances mais sombrias de sua personalidade, como a ira, a intolerância, a vaidade, a intransigência, o rancor e tudo mais de vil que possa existir nas deficiências humanas. 

Esta criatura superior, que está acima do bem e do mal, na verdade é um impostor, que se vale de sua oratória afiada e palavras bonitas para aliciar os incautos, pessoas inocentes e de boa fé que impressionadas pelo seu garbo ou sua figura sagrada sucumbem aos seus encantos e se deixam condicionar. Esse mercador da esperança, que se diz emissário da verdade, nada mais é que um parasita, uma praga a ser combatida, não que seja fácil identificá-lo, assim como a larva da borboleta que assume outra forma bela e delicada, ele também pode transfigurar-se, como o lobo na pele do cordeiro.
  
Fazendo-se passar por santo, arvora-se ao direito de propagar o fel que sua mente destorcida foi capaz de produzir. Seu amor-próprio é tal, que ao fazê-lo subestima a inteligência alheia, imputando a todos aqueles que pensam de um modo diferente a sentença que ele mesmo concebeu e julgou, porém, esquece de ater-se as evidências e se compromete mais do que deveria ao tentar defender sua pretensa verdade, ignorando que deva apresentá-la para não se tornar vítima da própria peçonha, já que a verdade é irrefutável, consubstanciada na realidade dos fatos.

Empostado no alto de sua arrogância regozija se com sua obra, como o artista míope que pinta o mais bizarro dos quadros, para o deleite seu, e de outros, que assim como ele, inconscientes de sua condição de escravos prosélitos, se contentam com o gosto da ração que o novo feitor lhes concede. Desta forma, na mais completa obscuridade, com suas mentes entorpecidas e suas visões enturvadas, são incapazes de perceber o mal da crença que vos aflige, crédulos de que estão fazendo o Bem para si próprios, quando até mesmo o masoquista lhes inveja o flagelo.

Todavia, esse embusteiro tem uma fraqueza, a idolatria, que abriga em seu ventre a semente do fanatismo que lhe engessa a razão. Basta observar com atenção para descobrir um objeto de reverência, que seja uma pedra, mas ele estará lá. Portanto, deve-se ficar atento a ingenuidade, esquadrinhar o território desconhecido antes de adentrá-lo, e, se por um acaso, encontrar algum ícone, previna-se, porque ninguém, além de si mesmo, será capaz de redimi-lo.

Ao despertar de cada dia, numa vigília infindável, deve examinar-se internamente pelo benefício próprio, porque qualquer um, até o mais insuspeito dos seres, ao querer difundir sua “sabedoria” a respeito da vida, pode tornar-se, um traidor de si mesmo.

Apresentação



   A primeira vista pode parecer bizarro o título deste blog, “O Idiota Inteligente”, mas existe uma razão para isso, uma analogia ao princípio da dualidade e da contradição que pressupõe a simetria. Assim como o bem e o mal, o verso e reverso, entre outros infinitos exemplos que estão em toda natureza que nos permeia, é sintetizada perfeitamente, ao meu entender, no Yin-Yang, que se auto-completa perfazendo o Todo, constituindo em si mesmo o próprio equilíbrio universal, decorrente da anulação de um pelo outro, uma vez que não se pode ser os dois ao mesmo tempo.

    Isto posto, conclui após adquirir alguma maturidade, que deveria buscar a mim mesmo. Refletindo sobre a mística imagem do Yin-Yang consegui elaborar uma concepção baseada na Esfera. Segundo a Física ela constitui a forma mais elementar do universo, composta de partículas, ou esferas menores, que se atraem mutuamente e convergem para o centro, formando novamente a simples esfera; que está sempre em equilíbrio. Em sua forma perfeita, não tem arestas, e rolaria até o infinito se uma força contrária não opuser o seu impulso.

    Penso que se desejo melhorar alguma coisa em mim, devo partir desta estranha concepção fundamental e voltar-me para o centro, para dentro de mim mesmo, me recriando várias vezes durante meu processo, procurando manter sempre o equilíbrio, aparando as arestas na busca pelo meu melhoramento e quem sabe encontrar as respostas às perguntas que me imponho.

   Embora tenha demorado a descobrir algumas coisas, sou um admirador das ciências, da filosofia, da teologia, da logosofia, do Marcelo Gleiser, do Frei Betto e de qualquer de pessoa com quem possa conversar, sem dogmatismos, sobre qualquer coisa.

   Tenho meus motivos para ser um deísta convicto, embora acredite que vida neste planeta, ou qualquer outro, seja fruto do acaso cósmico, a nossa existência não, temos algum propósito aqui.

   Juntei todos esses ingredientes e misturei tudo numa sopa de letrinhas tentando elaborar algum juízo do que já assimilei. Rascunhei minhas “abobrinhas” e agora começo a colocá-las em ordem. Penso que não podemos passar indiferentes por nossa existência. A medida que os textos ficarem prontos vou postar neste blog. Afinal o que adianta fazer uma obra que ninguém possa criticar e/ou elogiar. Tenho certeza que alguma coisa de útil,  algum alento, poderá estar escrito aqui.

   É este o objetivo deste Blog, trocar percepções a respeito do que observamos da nossa experiência de vida, como somos únicos, cada um tem   as suas. Compartilhe, nós também temos muito o que aprender.

   A primeira “abobrinha” e que deu origem a este blog é: O traidor de si mesmo.

Abraços,

Luiz Otávio