Muito tem se falado sobre o Método Científico, aquele através do qual se pode alcançar a verdade. Tão grande é a força dessas palavras que muitos, vaidosamente, utilizam-se delas até para promover técnicas de estudo, ideologias e doutrinas a um posto que não lhes compete. Mas o objetivo aqui é outro, o de trazer algumas reflexões sobre o tal método.
Primeiramente é preciso definir o que seja ciência. Estão listadas abaixo algumas definições segundo os dicionários.
-> ciência é o conjunto organizado de conhecimentos humanos relativos a certas categorias de fatos ou fenômenos. Toda ciência, para definir-se como tal, deve necessariamente recortar, no real, seu objeto próprio, assim como definir as bases de uma metodologia específica.
-> ciência, conjunto de conhecimentos humanos a respeito da natureza, da sociedade, do pensamento, adquiridos através do desvendamento das leis objetivas que regem os fenômenos e suas explicações lógicas, esta seqüência denomina-se: progresso da ciência.
Uma vez esclarecido o que é ciência, temos que esclarecer o que é metodologia científica.
A metodologia científica originou-se no pensamento de René Descartes, posteriormente o físico inglês Isaac Newton, embora empiricamente, corroborou no desenvolvimento do método científico. A proposição de Descartes consistia em alcançar à verdade por meio do questionamento sistemático e da decomposição do objeto em estudo me partes menores. Essas bases definiram o que viriam a ser os fundamentos da pesquisa científica contemporânea. Partindo do menor para o maior, procurando compreender as coisas simples, e gradualmente abarcar mais variantes ao processo, aumentando a complexidade, até conseguir compreender o todo.
O método científico se caracteriza por um conjunto de regras básicas, fases do processo que determinam a ordem de como deverão ser realizados os experimentos de acordo com sua natureza. Essas fases constituem uma referência, para não se alternar ou saltar uma ou outra fase durante o processo de pesquisa comprometendo os resultados do objeto em foco. Daí decorre o método que orienta a execução de um procedimento que objetiva produzir o conhecimento cientifico. É interessante ressaltar que método científico pode se suceder infinitas vezes, esta seqüência que permite o refinamento sucessivo do processo, em suma, sua evolução, ampliando cada vez mais os conhecimentos a respeito do objeto em estudo.
A dedução, ou método dedutivo, diferentemente da indução, pressupõe a observação isolada dos dados, partindo da exceção para o todo, muito praticada nas ciências naturais e nas estatísticas matemáticas. Entretanto, a indução também pressupõe a probabilidade, isto é, já que tantos se comportam de tal forma, é muito provável que todos se comportem assim (amostragem).
Posteriormente outro filósofo Karl Popper, provou que nem a dedução e nem a indução puramente serviam ao propósito em questão o de -“compreender a realidade conforme esta é e não conforme gostaria-se que fosse” – a ciência deve considerar o falseamento, ou seja, deve apresentar uma hipótese e testar suas variantes hipotéticas procurando não apenas evidências de que ela está certa, mas também as evidências de que ela está errada. Quando uma hipótese sucumbe aos testes, conclui-se que ela foi falseada, caso contrário, corroborada. Popper constatou a dinâmica científica, afirmando que a ciência é um conhecimento provisório, que funciona através de sucessivos falseamentos. Nunca se exaure completamente uma teoria científica.
Thomas Kuhn percebeu que os paradigmas são elementos essenciais do método científico, sendo os momentos de mudança de paradigmas, aqueles chamados de revoluções científicas. O método científico é construído de forma que a ciência e suas teorias evoluam com o tempo.
Apesar da distinção dada aos objetos em estudo, existem certos elementos que caracterizam o método científico: conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade.
Existem outros vários outros métodos encontrados em diversas áreas, como exemplo: os utilizados na filosofia, na física, na matemática, na teologia e até mesmo nas religiões. Cabe ressaltar que alguns destes, devido as suas origens indeterminadas, não podem ser confirmados ou negados. Sua comprovação está vinculada a tecnologias ou experiências ainda não disponíveis no mundo atual, outras a formação moral e as crenças de cada indivíduo.
Para muitos autores o método científico nada mais é do que a lógica aplicada à ciência.
Observe que o conhecimento, seja sua natureza qual for não é algo simples de se obter, é necessário sacrifício, horas de estudo dedicadas para conquista do mesmo, tem ser realizado sob a tutela do bom senso e da razão, aquela que nos capacita a aprender, mas também a questionar, não se deve acatar um conhecimento qualquer mecanicamente, sem questioná-lo, comprovar sua eficácia, testá-lo infinitas vezes, averiguar seus resultados, e por fim constatar se o objeto ora estudado está consistente com a realidade, outorgando-lhe uma verdade que possa e deva ser aceita, acreditada.
Ótimo, já é possível conceber algumas reflexões sobre o que seja o método científico. Dessas compreensões decorre outro questionamento. Como colocado anteriormente, foram expostos os mecanismos de aplicação do “método” sobre “a coisa” observada, que leva a dedução clara que aquilo que não pode ser enquadrado nos moldes da metodologia científica constituir-se-ia em crença. Por outro lado o método científico se fundamenta também na experimentação, através da repetição de um determinado processo que faltamente culmina num resultado igual ou similar ao obtido anteriormente. Este é o ponto, o paradoxo científico, aquele que contradiz a si próprio, que mesmo utilizando um método científico e obtendo resultados, não podem ser aceitos, são impalpáveis, sentidos apenas por aqueles que o testaram em si mesmos.
Destaque-se que estes resultados não frutos de uma credulidade, fato este comprovado pela grande quantidade de cientistas que tem sucumbido aos seus próprios questionamentos a respeito da razão de “Tudo”. Nos anos 70 três cientistas se destacaram mais nesse campo e trouxeram à tona as famosas teorias do Princípio Cosmológico Antrópico, Brandon Carter - 1974, John D. Barrow e Frank J. Tipler -1979, os dois últimos seguiram um viés mais teológico.
Essas reações ao determinismo científico impregnado pelo ceticismo, que por vezes distorce a sensibilidade e quiçá a razão, manifestadas dentro seu próprio ambiente de forma ampla e evidente, expõe as incertezas a que estão sujeitas a ciência humana. Tendo em mente que ainda não podemos ter respostas para explicar os vários questionamentos humanos, partiu-se então para outros caminhos, o da metafísica, instituída por Aristóteles, que embora calcada na abstração filosófica, vem se constituindo numa alternativa a carência de respostas. Não que se deva partir do ateísmo pragmático, para a crença no divino, como aconteceu com o evolucionista Russel Wallace, mas sim, continuar a busca de respostas.
Não é segredo algum e muitos sabem dos grandes investimentos feitos por centros de pesquisa e governos de todo mundo a busca de respostas, seja lá fora, no cosmos, ou aqui, pesquisando a si próprio, ansiando por desvelar os mistérios da vida que se encerram dentro de cada um. Nos idos de 1930, Joseph Banks Rhine, iniciou uma série de estudos para tentar explicar os fenômenos paranormais, a parapsicologia. Seguindo os paradigmas da metodologia científica, ele buscou formular uma maneira de experimentar, testar, averiguar e confirmar os resultados obtidos com suas experiências. Desta forma, conseguir atribuir aos fenômenos paranormais uma legitimidade que configurasse a veracidade de seus experimentos.
A psicologia moderna classifica estes fenômenos para-psíquicos como PSI, e os subdivide em três: psi-gama, psi-kapa e psi-theta, que contemplam desde a telepatia, pré-cognição, psicocinesia, até a comunicação além vida.
Apesar de tudo isso, ainda estamos longe de alcançar as respostas para nossos questionamentos, mas partir do pressuposto que aquilo que não pode ser provado cientificamente não consiste na verdade, configura-se um preconceito, que por si só demonstra o conflito, como poderia a ciência prejulgar algo, quando sua premissa fundamental é exatamente a contrária, que se fundamenta na busca por explicações.
O método científico é de fato importantíssimo e não pode ser relevado em momento algum, respeitando sua formalidade, mas segui-lo cegamente sacralizando-o como único meio de se alcançar a verdade plasmaria uma crença, como tantas outras que ele tenta contrapor. Quem sabe possamos esquecer um pouco de nossa racionalidade científica, e assim como fazemos com os nossos sentimentos, admitir humildemente, que talvez não sejamos únicos, que o universo seja múltiplo como alega a física quântica, e até mesmo, que Deus exista.
Boas tardes, Luiz!
ResponderExcluirSó agora comecei a “ruminar” seus textos.
Como aposentado (vagabundão, segundo FHC), deixei o Método Científico na estante, embora reconheça a importância dele para o desenvolvimento material da humanidade. Mesmo vagabundão, continuarei a apreciar reflexões significantes como está que você ora nos brinda. E, alinho meu pensar ao que você expressa no último parágrafo do texto.
Tratando-se do meu viver, ainda utilizo um pouco de metodologia nos meus treinozinhos de tênis, mas é só. Meu lema diário é: no method, no stress! Tendo isso em vista, a verdade pela qual tenho me interessado são os fatos do viver. E, como para mim tudo no viver é sempre novo, consinto com Heráclito de Éfeso, quando ele afirma: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez não somos os mesmos, e também o rio mudou”.
Agora, vou imitar Aristóteles no diálogo com Higgs criado por Marcelo Gleiser; vou ser fiel as minhas raízes (instinto) e ficar com uma taça de vinho. “Eu mereço!”, depois de um duro domingo correndo atrás da bolinha amarela.
Um abração,
Roberto Lira
P.S.: Já que estamos tratando de Método Científico você, como um dos admiradores do físico Marcelo Gleiser, deve ter lido o texto que ele hoje publica na Folha de São Paulo ( http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saudeciencia/57343-aristoteles-e-higgs-uma-parabola.shtml ), com o titulo: “Aristóteles e Higgs: uma parábola”.
Boa tarde Roberto,
ResponderExcluirRealmente, mereces um descanso justo pelo seu domingo sobre o saibro.
Sabes que a utilização do termo "acima", humildemente adotado, não lhe faz jus, penso que talvez, neste momento de sua vida em que podes dedicar-se a si próprio, sua atividade mental seja tão intensa ou maior que durante seus anos de labor. Contraditório não, eu adoro as contradições.
Minha percepção a respeito do método, diverge um pouco da sua, procuro me espelhar na "natureza", e como sou parcialmente influenciado pelo positivismo de Comte, percebo a ordem no caos como uma atuação superior, um regimento abstrato, mas presente, confesso minha crença na atuação de uma "força superior", mas apenas isto, ainda não me sinto capaz de abordagens mais profundas a respeito da origem de "Tudo".
E como citou Heráclito, consinto plenamente com sua afirmação, mas sempre "atento a correnteza do rio" de nossas vidas.
Grande abraço,
Luiz Otávio
Luiz, mesmo nas nossas saudáveis divergências, convergimos em muitas coisas. Eu também procuro “encaixar” minhas compreensões na observação da Natureza. Também, me sinto incapaz de dispensar o conhecimento científico, mas somente para apreender as coisas da vida material. Para apreender nos meus relacionamentos, na vida psicológica, é que vale o “no method, no stress”. Quanto à crença numa “Força Superior”, eu também sou um crente. É como diz o ditado: se há uma criação, tem que haver um criador, embora eu me sinta incapaz de ter uma compreensão clara do que é esse Criador.
ResponderExcluirE vamos entrar nesse “rio chamado vida”, ATENTOS à correnteza e as “marolas” e “marolinhas”.
Abração,
Roberto Lira