terça-feira, 30 de julho de 2013

Deus, Além da Esperança.


Em 650 a.C., uma frase estampada nas paredes do Oráculo de Delphos ignorava a mitologia grega, rica em deuses e deusas do Olimpo, dizia o seguinte: “Conhece-te a Ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum”. Tal frase também é atribuída a Sócrates. A filosofia sempre questionou a origem das coisas, suas relações entre si e como interagiam influenciando o destino do homem, sempre tentando estabelecer métodos, formas de estudo e “observações” que permitam obter uma explicação que seja no mínimo razoável, racional, sobre o mundo que vivemos. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, afirmava que as palavras são abstrações humanas utilizadas para simbolizar percepções e representar os pensamentos, e complementa, diz que as palavras são metáforas que buscam uma correspondência no mundo real, perfazendo o absurdo de estabelecer uma correspondência entre o sujeito e o objeto, considerando a essência de suas naturezas diferentes. Para ele, a emblemática cultura humana utiliza-se de mecanismos como a crença, ciência, filosofia, entre outros, para identificar o não idêntico, criando sinais, letras, palavras, etc. a partir de divagações mentais elaboradas para materializar de alguma maneira as assimilações psíquicas que são absolutamente imateriais. Seguindo a linha de raciocínio nietzcheniana, é possível afirmar que a compreensão do homem sobre o mundo a sua volta é predominantemente empírica, individual e única, uma experiência pessoal onde o ser interage emocional e sensorialmente de forma íntima, pura, algo que não pode ser reproduzido e retransmitido a outrem fidedignamente. Ao contar uma história ou narrar sobre qualquer fato, pesam aspectos que não podem ser vivenciados por terceiros, ou seja, mesmo com todo zelo pelos detalhes, existem qualidades que não podem ser retratadas com a mesma intensidade de quem viveu a experiência, portanto, qualquer que seja a história, em algum momento ela faltará com a verdade em sua totalidade. As narrações reproduzem somente as opiniões particulares daqueles que participaram de algo, e ao calor da emoção, no anseio de propagá-las, acabam por embutir uma assinatura pessoal, mesmo que inconscientemente, algum produto da própria criatividade, espelhando o sentir e o pensar de quem testemunhou o acontecimento do fato naquele instante, consequentemente, distorcendo a verdade. Além disso, tem-se que considerar todo o universo de deficiências físicas e psicológicas que podem afligir qualquer criatura humana e jamais devem ser ignorados. Há um dito popular que resume sabiamente esta situação: “quem conta um conto, aumenta um ponto”.

O empirismo é, e sempre será parte relevante do processo de aprendizado humano, contudo, nem todas as conclusões poderão ser obtidas somente à luz da experimentação, algumas estão distantes do mundo físico, são imateriais, imprevisíveis, surpreendentes, como os sentimentos, que apesar de não palpáveis, podem ser sentidos, são reais. Para estes casos, é plausível lançar mão de outros recursos e aliar ao aprendizado empírico ao método heurístico, que sugere chegar à verdade através de seus próprios meios, e não por intermédio de alguém ou alguma coisa, contudo, esse método pressupõe desprendimento e desapego, deve-se estar livre de preconceitos e “consciente” quando da sua aplicação à busca de um juízo de valor, de modo a evitar o automatismo que inviabilizaria uma resposta consistente. A Verdade é uma conquista sublime, intransferível, não admite intermediário, não deve ficar à mercê das opiniões alheias e não pode ser herdada de terceiros.

A inabalável inquietude humana sobre suas origens sempre remeteu ao homem os mais diversos pensamentos, desde que começou a raciocinar e questionar a própria existência viu aflorar em seu espírito o “desejo” por respostas que explicassem o significado de sua vida. Não é apenas plausível, mas muito razoável pensar que o homem inventasse ícones, objetos de adoração e crenças que tentassem esclarecer o início e porque não dizer, o final dos tempos. Se nos dias atuais, a ciência humana ainda rasteja tentando obter respostas para sua justificar sua presença neste pequeno planeta, contido numa uma galáxia perdida nos confins do universo, não seria muita pretensão de alguns homens se arvorarem a dizer como foi o princípio e como será o final dos tempos?

As religiões e seitas ao querer moldar o pensamento humano e o mundo de acordo com suas conveniências, predestinando o futuro do homem, não estariam propagando um temor “desnecessário” a Deus?

As crenças com seus inúmeros messias acabam por confundir e separar o homem de seus semelhantes. Amparando-se em argumentos vagos, cada uma construiu uma visão própria do paraíso e do inferno, conceitos controversos que servem apenas para afligir e confundir os fiéis na busca pela redenção. O paradoxo consiste no fato de que ao crer o homem deliberadamente ignora a verdade, pois, se predispôs a acreditar naquilo que lhe é transmitido, doutrinado, ou seja, a mente humana, a razão, não intercedeu refletindo sobre o benefício ou malefício daquilo que lhe foi imposto, menosprezou seu direito de escolha e não teve sequer a oportunidade vivenciar ou experimentar sua veracidade.
Se for crendo que se ascende a Deus, diante dessa fartura de crenças e seitas, o homem aflito e desnorteado deve se perguntar: qual é a verdadeira, ao “deus” de que religião ele deverá render suas preces para alcançar a salvação?

Cabe perguntar: é preciso crer para conhecer a Deus? Crer em quem?

Talvez seja necessário rever e repensar essa postura humana e aprender mais sobre as crenças e suas divergências. Ao conhecer e compreender o papel das crenças o homem se torna livre para pensar além de seus limites, dogmas e preconceitos. Ele passa a ter a possibilidade de enxergar novos horizontes e vislumbrar outras possibilidades. Não se trata de ateísmo, ceticismo ou qualquer outra forma de repúdio a religião, tanto a crença quanto a descrença, são faces de uma mesma moeda, no seu âmago jaz a rejeição, neste caso, tal qual o crente, o cético ou ateu, também padece do sentimento de intolerância e aversão à diversidade e ao pluralismo, privando si mesmo de conhecer o novo. Remetendo a Nietsche e sua visão particular sobre as palavras, seria a palavra “deus”, suficiente para representar toda magnificência do Criador ou representaria somente uma tradução superficial calcada nas aflições e sentimentos humanos? Como transcender ao seu significado? O que é real?

Talvez a tradição oral de cada língua traga conotações diferentes ao significado das palavras, no entanto, o desejo comum de compreender a “razão” da existência humana fornece vitalidade e alimenta a “esperança individual” de ascender a Deus e gozar de suas bênçãos. É nessa esperança que convergem todos os esforços do homem em prol de sua remição. Valendo-se somente do significado de uma palavra, o homem converte o propósito de sua vida em um punhado de palavras que adornam outras e, por conseguinte, constroem histórias que se perpetuam mantendo sua finalidade primordial, iludir, supondo que a palavra não é o real, mas somente uma representação dele.

A graça das palavras está em permitir ao homem que registre sua trajetória através dos tempos, escrevendo sua história. É pela mão do homem que elas são manuseadas e utilizadas para se adequarem aos anseios dos escribas que governam suas penas. A palavra é mais que um meio de comunicação, ela é instrumento de poder, de manipulação, que despensa até as mídias, porque pode ser oral, como muito bem fazem os políticos. Temer o poder das palavras seria sensato ou apenas um exagero? Palavras soltas nada significam, mas se não contiverem uma mensagem... Este é o propósito, poder transmitir alegrias, dores, verdades e mentiras.

O texto que está diante de vossos olhos caro leitor, é de fato um texto, e isso é uma “verdade” irrefutável, não é? Ninguém, em seu juízo perfeito, seria “louco” de negar que seja. Então seria possível dizer que a palavra “texto”, aqui empregada, sintetiza a verdade, no entanto, palavras que se referem aos sentimentos tem uma compreensão muito íntima, não se pode ver ou tocar o que representam; não se pode apontar para o amor ou a tristeza e afirmar que isto ou aquilo seja amor ou tristeza, quando citadas, analogamente o cérebro humana constrói associações com “experiências individuais” de amor ou tristeza, já vivenciadas, para ser capaz de sentir e entender seus significados. Ao se referir à palavra “deus”, o homem vai se reportar a quê, a crença que sacraliza as palavras atribuindo lhe verdade, ou a si mesmo? Como se portar diante da palavra “deus” se cada religião tem uma imagem própria e explicações divergentes sobre a “coisa” designada pelo significado dessa palavra?. O que pode ser aplicado a Deus? Certamente cada crença a fará a sua maneira, fundamentada na esperança de que Deus seja desta ou daquela forma. Esperança alimentada pelo medo e pelo temor que muitos seres têm em torno de suas angústias, aguardando que alguém possa salvá-los dos “pecados” cometidos nesta terra e livrá-los do purgatório.

Segundo o psicólogo francês Gustave Le bon, “A esperança é filha do desejo, mas não é o desejo.”, para ele a esperança induz a crença que alimenta a realização do desejo. Qualquer pessoa pode desejar o que quiser, muito embora não existam garantias de que tal anseio se realizará, apenas a esperança de que possa acontecer. A esperança gera a expectativa que consiste na passividade da espera, porque geralmente está além das capacidades ou recursos daquele que a nutre, acalentando a possibilidade de sua realização. A ilusão da esperança alimenta a fornalha do temor, ao lançar mão dela, o homem o faz subjugado pelo medo oriundo da insegurança de perder de algo que deseja para si, mas que teme não conseguir alcançar ou independe de sua vontade manter. Sempre haverá mercadores da esperança dispostos a acudir os aflitos, e se uma não for bastante, inventarão outras, prontas para atender as pretensões daqueles que se acham pecadores.

O advogado Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres escritores do Império Romano, argumentava que os homens submetiam suas vidas ao governo do medo, menosprezando a prudência que repele o temor e faculta a descoberta. Ao tentar combater seus flagelos espirituais, insiste em superar suas fraquezas temperando seus receios com esperanças que os enganam e apaziguam vossos temores. Sobre o medo e a esperança escreveu:

Estabelece equilíbrio, pois, entre a esperança e o temor; sempre que houver completa incerteza, inclina a balança em teu favor: crê no que te agrada. Mesmo que o temor reúna maior número de sufrágios, inclina-a sempre para o lado da esperança; deixa de afligir o coração, e figura-te, sem cessar, que a maior parte dos mortais, sem ser afetada, sem se ver seriamente ameaçada por mal algum, vive em permanente e confusa agitação. É que nenhum conserva o governo de si mesmo: deixa-se levar pelos impulsos, e não mantém o seu temor dentro de limites razoáveis. Nenhum diz:
- Autoridade vã, espírito vão: ou inventou, ou lhe contaram.
Flutuamos ao mínimo sopro. De circunstâncias duvidosas, fazemos certezas que nos aterrorizam. Como a justa medida não é do nosso feitio, instantaneamente uma inquietude se converte em medo.

Séneca, in 'Dos Reveses'

Nem é de admirar que assim seja: ambos caracterizam um espírito hesitante, preocupado na expectativa do futuro.
A causa principal de ambos é que não nos ligamos ao momento presente antes dirigimos o nosso pensamento para um momento distante e assim é que a capacidade de prever, o melhor bem da condição humana, se vem a transformar num mal. As bestas fogem aos perigos que veem, mas assim que fugiram recobram a segurança. Nós tanto nos torturamos com o futuro como com o passado. Muitos dos nossos bens acabam por ser nocivos: a memória reatualiza a tortura do medo, a previsão antecipa-a; apenas com o presente alguém pode ser feliz!

Séneca, in 'Cartas a Lucílio'

A luz da reflexão e após apartar os fantasmas do dogmatismo, é muito fácil questionar a palavra “deus” e seus significados, a inquietude decorrente desta ação “consciente”, pode culminar em alguns questionamentos, entretanto, estes suscitarão uma série de outros, basta pensar de maneira isenta e minuciosa para que cada um mergulhe sua mente num turbilhão deles.

Será que o homem adora uma ilusão construída por ele e não a Deus?
Se cada religião criou para si um Deus que venera, e está realmente fundamentada em ensinamentos que profetas e messias receberam deste Deus ou da própria encarnação dele, onde esta a Verdade?
Qual “palavra” escrita em meio a tantos livros sagrados poderia conter a Verdade ou seriam todos utopia?
Seria possível que um livro contivesse ”toda” verdade sobre Deus?
Quem poderia libertar o homem da “palavra” e de sua própria ilusão?

Segundo o pensador e filósofo indiano Jiddy Krishnamurti, é natural que após questionar-se de maneira tão contundente e profunda o ser humano se pergunta: “Se não há ilusão, o que resta?” e responde, “apenas o que é”, “o que é, é o que há de mais sagrado”. A simplicidade da resposta do pensador indiano continua alimentando a dúvida, ele esclarece:

“o que é, é o que há de mais sagrado, leva a muita incompreensão, porque não percebemos a verdade que ela encerra. Quando se enxerga que "o que é", é sagrado, não se mata, não se faz guerra, não se espera nada, não se explora.”.

 Neste caso ao assimilar essa “verdade” o homem desperta para mudança, para transformação, mas não de maneira impositiva ou doutrinária, e sim por uma vontade interna, um estado de consciência que o fez aperceber-se da necessidade dessa vicissitude.

Não é preciso “crença” para ser bom, para se almejar a paz do estado de espírito. Negar essa premissa é afirmar que todos os ateus seriam maus, e não só eles, também os crentes, pois, para aqueles que professam outra crença, todos os restantes lhe parecem infiéis, consequentemente toda humanidade estaria condenada. E já não está? A credulidade e a propensão ao engano não levam a verdade, somente a ilusão. Sacralizar divindades serve apenas para afastar o homem de si mesmo, semeando a discórdia em torno do Pai e rebaixá-lo ao comum, ordinário, mundano, pecador, do “altíssimo” Deus; para que pessoas que se vangloriam mais puras, portadoras da verdade, contudo, iguais a todas as outras, se aproveitem da boa fé alheia para lhes conduzir como pastores, para depois tirar-lhes o leite, a lã e finalmente a carne. É necessário tanto sofrimento para almejar a salvação ou as pessoas simplesmente deixam-se levar pela tradição?

O trecho abaixo reproduz parte do pensamento do pensador e filosófo argentino Carlos Bernardo Gonzáles Pecótche, que possuía uma compreensão muito peculiar sobre Deus e a verdade, afirmava ele: “Essa Grande Verdade é a concepção suprema de todo pensamento ou pensamento de Deus, e é, ao mesmo tempo, Deus, porque é a razão de ser e a causa eficiente de todas as coisas. Se buscarmos a razão de ser de nossa entidade humana faremos isso seguindo tal pensamento até a própria raiz de nossa origem, e a própria raiz de nossa origem está, logicamente, no que denominamos Grande Verdade. De modo que, buscando-se cada um a si mesmo, encontrará no final de sua busca a seu próprio Criador, e se converterá, ao identificar-se com Ele, em criador de si mesmo e em colaborador direto da Criação.”

Felizmente, apesar de serem subliminarmente impostas, as religiões não obrigam seus seguidores a manter os seus vínculos e permanecer em seus templos, quem deseja se afastar é “alertado” para os riscos de se distanciar de Deus, que ironicamente é benevolente e onipresente segundo elas próprias. O máximo que fazem é banir ou demonizar aqueles que se retiraram de sua sombra. Mas, não há porque recear, aos apóstatas arrependidos as portas estarão sempre, convenientemente abertas, para acolher novamente o cordeiro desgarrado. Em tese, qualquer pessoa está “livre” para alçar voos para outros campos, e experimentar novas seitas ou crenças, experimentar novos sabores de “Deus”, talvez mais palatáveis, onde poderão conhecer novas “verdades”, salvar o espírito e granjear os frutos da felicidade que lhe serão prometidos em conquistas financeiras e materiais, sem perceber, contudo, que está voejando em círculos. Hoje o proselitismo campeia solto tentando sempre arrebanhar novos fiéis às “obras”. É um mercado ávido em franca expansão, sempre imbuído das melhores intenções, onde sacerdotes afiam suas oratórias para encantar o fiel como sendo os passaportes da redenção, porém atentos as suas aflições, preocupados em perdê-lo para o templo vizinho que também anseia seduzi-lo para arrebanhá-lo. Em compensação, as pessoas podem, se quiserem, utilizar-se da razão e valerem-se do questionável “livre-arbítrio”, procurando respostas em si mesmas, avaliando sua conduta, observando o mundo a sua volta e a forma como interagimos com ele e com os seres que dele fazem parte. Permitindo-se a observar “o que é”.

Quem ousa ir além da esperança busca liberdade. Não está a procura por um Criador parametrizado pelas religiões, maculado pelas deficiências humanas, o Etéreo feito homem; deseja senti-lo simplesmente e saber que essa força é a pura essência do todo, imanente ao próprio universo, para poder despir-se de si mesmo, pensar e experimentar a alegria de viver sem os temores e as angústias dos preconceitos, aprender que sempre é possível transformar, aprimorar e melhorar aquilo que somos e não aquilo que pensamos ser, ou então, continuaremos atados à esperança, a complacência inadiável do tempo, e testando a paciência infinita de Deus.

A carta reproduzida abaixo, surpreendentemente bela, é do filósofo holandês Baruch Spinoza e certamente, merece ser lida.

Deus falando com você.

Para de ficar rezando e batendo no peito!
O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias.
Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Para de me culpar da tua vida miserável:
Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.

O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria.
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho...
Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar.
Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar,
que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos.
Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.
Viva como se não o houvesse.

Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.

E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Para de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?

Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisas de mais milagres?

Para que tantas explicações?


Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti... aí é que estou.