Desde a antiguidade
vem-se tentando estabelecer um consenso sobre um dos assuntos mais controversos
da história humana, portanto qualquer ensaio sobre este tema tão complexo seria
apenas mais uma gota num oceano de reflexões e contradições que vem ocupando
muitas mentes brilhantes ao longo da caminhada humana na busca por respostas.
Tecer considerações sobre o instinto curiosamente remete a uma profunda auto-observação
da conduta pessoal, neste caso, servindo como baliza para redação de qualquer
coisa útil, algo que pudesse agregar algum valor as pessoas interessadas sobre esse
incógnito, e quem sabe, trazendo alguma reflexão nova.
De acordo com os
dicionários é um estímulo ou “impulso” natural, involuntário, através do qual
animais e também homens praticam certas ações sem saber os fins ou propósitos
destas atitudes. Essa definição embora sucinta e um tanto simplista, incita uma
seqüência de interrogações sobre este assunto. Será mesmo que o instinto se
manifesta de maneira involuntária como afirmado acima? Poderíamos acatar essa
explicação partindo da premissa que ela abrangeria somente o comportamento
animal, ainda assim cabe perguntar, seria possível um ser humano agir de forma
involuntária em condições normais, sem que houvesse a intervenção de um centro
nervoso mais elaborado como o cérebro? E a consciência, onde ficaria nesta
história, afinal essa não é uma das características de ser racional, possuir um
motivo, uma “razão” que dispare uma reação muscular frente a um evento ou
ameaça? Atribuir aos instintos uma responsabilidade sobre atitudes
inconseqüentes, inoportunas e imponderadas configuram mais que esta
“inconsciência”, é uma síntese do sonambulismo. Essa paralisia cerebral que
muitas vezes culmina nas atitudes mais bizarras, sugere que a bestialidade
humana lamentavelmente pode ser consciente, ou seja, exceto os sonâmbulos, o
restante da humanidade age desperta, e se movimenta “acordada”, biologicamente,
da mesma forma que os “animais”, animados por milhões de impulsos nervosos comandados
pela parte “superior” do encéfalo. Seguindo o conceito biológico, que compreende
o homem meramente como um animal enquanto criatura viva, essa afirmação não
parece nenhum absurdo dependendo da ótica utilizada para analisá-la, principalmente
quando se constata que ele pode ser regido pelos instintos em alguns momentos, assim
como uma marionete a mercê de alguma força primitiva rompante. Em quantos casos
percebe-se que essa justificativa é muito conveniente, delegar aos instintos ou
alguma alteração psíquica a conseqüência dos comportamentos errôneos, ou da
expressão da maldade humana, tratando isso como se fosse algo involuntário, é infelizmente,
bastante comum.
Tal assunto, de tão
labiríntico, exige mais que divagações superficiais sobre ele, não dá para abordar
o aparentemente simples “instinto” sem se calçar de alguma informação mais elaborada,
que tenha sido martelada ao longo dos tempos, no entanto, sem que se conseguisse
molda-la ou chegar a uma unanimidade, uma explicação definitiva sobre ele.
Um dos primeiros a se
pronunciar sobre ele foi o filósofo grego Sócrates (469 – 399 a.C.), ou seja,
há mais de dois mil anos busca-se uma definição sobre o que seja instinto. Será
que na busca pelo racionalismo Sócrates almejasse a posição de precursor de uma
nova cultura, de uma nova etapa da humanidade, onde os princípios basilares
constituíam-se do emprego da inteligência subsidiados pelo absolutismo racional,
evitando ao máximo as manifestações dos instintos humanos, aquela energia que movimenta
o homem e pode levá-lo a demonstrar seu lado mais sombrio, seus sentimentos
mais primitivos? Esse questionamento foi fundamentado simplesmente na forte ênfase
socrática para utilização da razão e suscita outro em paralelo; o racionalismo
radical seria um mecanismo subjetivo de auto-afirmação pessoal buscando uma
forma de controlar as manifestações destes anseios “animais”? Partindo-se do
pressuposto que a manifestação do instinto atenta contra a “consciência”, que além
de ser uma prerrogativa humana, é também um referencial muito importante para o
mundo filosófico. Talvez Sócrates soubesse respondê-la.
Discípulo de Sócrates,
Platão (428 – 347 a.C.) elaborou sua concepção a respeito do ser humano, que compreendem
uma parte material e outra etérea, que seria sua parte divina, conforme afirmava
ele, atribuindo a ela um caráter imutável, enquanto a física, sucumbi aos
efeitos do tempo e de sua própria condição, submetendo-a a constantes
alterações. Segundo ele, nascemos com alma “perfeita”, mas não temos consciência
disso, essa perfeição se refletia então nas verdades essenciais que estão
gravadas indelevelmente na alma de cada um, mas devido às restrições do corpo
físico, esses conhecimentos são “esquecidos” ao nascer. Segundo Platão a alma é
dividida em três dimensões, uma delas, a do ser vivo, designa que o ser humano enquanto
criatura vivente possui dois instintos naturais, o de sobrevivência e o de
reprodução, que também é comum aos outros seres vivos.
Quais foram as
observações que conduziram Platão a estas conclusões? O que levou ele a atribuir
somente à fisiologia humana a responsabilidade pela procriação o a manutenção
da vida? Por exemplo, dissociar o sexo e a fome das virtudes associadas ao
intelecto é até razoável, mas seria justo? Teria ele estabelecido uma analogia
com a sensação de satisfação e paz que se experimenta após o orgasmo ou a
alimentação, sensação esta que serena, pelo ou menos momentaneamente, a tensão
que impulsiona a manifestação destes instintos humanos. Aparentemente, para
ele, os instintos seriam parte dessas restrições que o corpo impõe sobre a
alma.
Durante idade moderna,
surgem novas compreensões sobre os instintos, mais adiante na idade contemporânea
o nascimento da psicologia trouxe novos ares e mais dúvidas sobre o
controvertido assunto, apresentando uma nova série de considerações e
interações para se questionar.
Coincidência ou não, o
fato é que Freud (1856 – 1939) também dividiu o aparelho psíquico humano em
três partes básicas, assim como Platão havia feito com alma humana dois mil
anos antes. Freud nomeou estas partes como Consciente, Pré-consciente e
Inconsciente, alegando que há conexões interligando todos os eventos mentais,
no entanto, aqueles pensamentos ou sentimentos que aparentemente não estão relacionados
a uma ordem de precedência estariam conectados ao inconsciente. Segundo o pai
da psicanálise, o inconsciente abriga os elementos instintivos, que são alheios
a consciência, e também os pensamentos reprimidos e censurados pela moral e pelos
costumes, inculcados pela cultura vigente em que o ser se encontra inserido, mais
os traumas. Ainda segundo Freud, esse material psicológico não é esquecido, mas
apenas mascarado pela consciência que reluta em admiti-lo. Apesar da
nomenclatura, o “inconsciente” freudiano não é estático e indiferente, existe
vida no seu material, mantendo as memórias intactas, sem comprometer seu fator
emocional, aspecto observável quando por algum motivo, estas afloram. Paradoxalmente Freud acreditava
que grande parte da “consciência” era “inconsciente”, que vários traços da
personalidade humana, os impulsos (pulsões) e a energia psíquica são
manifestações do inconsciente.
Para Freud os
instintos ou pulsões humanos diferem daqueles que orientam o comportamento
animal, entretanto, enquadra os instintos como necessidades físicas, muitas
vezes suplantando a racionalidade.
Ele afirmou que o
instinto possui quatro componentes característicos: uma fonte, uma pressão, um
objeto e uma finalidade. A fome pode ser um exemplo banal, mas é bastante
ilustrativo. O corpo carece de energia, então necessita de nutrientes para
mantê-lo, “a fonte”. Quanto maior for a necessidade de energia, maior é a “pressão”
que aflora à consciência, então sente-se fome. Essa sensação tende a aumentar
até que a fome seja satisfeita pelo “objeto”, neste caso, a ingestão do
alimento (da comida), atendendo consequentemente sua finalidade.
Interessante na
observação freudiana é a vinculação do instinto às necessidades do corpo físico
como força motriz inicial, contudo desassocia a consequência do movimento do
estímulo biológico primário nos seres humanos. Deste raciocínio ele deduziu que
o mecanismo para um ser humano satisfazer seus instintos está mais associado
aos seus anseios psicológicos, que podem ser conscientes ou não, influenciados
por uma série de fatores de natureza individual, como valores morais, éticos,
religiosos, hábitos, possibilidades, etc.
Fundamentando-se no
comportamento mental padrão, que presumi uma pessoa normal e saudável, Freud elencou
uma diversidade de instintos, mas direcionou sua atenção para o que ele chamou
instintos básicos, constituídos de duas forças instintivas contrárias, a
sexual, fisicamente gratificante, e a agressiva ou destrutiva, sendo que primeiro
sustenta a vida e o segundo ocasionalmente pode levar a morte, geralmente
atuando, na maioria das vezes, de forma subliminar, sem que se perceba, agindo
sobre os pensamentos muitas vezes de forma conjunta. A primeira força ele
atribuiu a atuação da “libido”, desejo em latin, a segunda não recebeu nenhuma
nomenclatura especial.
Em consonância aos
conceitos de consciente, pré-consciente e inconsciente, Freud propôs os três
elementos básicos da pisque: o Id, o Ego e o Superego. Embora todos sejam
importantes, o primordial na atuação dos instintos é o id, que é inato,
abrangendo tudo que herdamos, é intrínseco ao ser e aos instintos, decorrem de
seu próprio corpo e se manifestam psiquicamente através de sistemas incógnitos,
constituindo a personalidade mais primitiva, natural do homem, sujeita as
necessidades do corpo, do ego e do superego. Em suma o id abriga o
inconsciente, seus sentimentos e desejos mais profundos repelidos pela
consciência, ou nunca experimentados por ela.
O Ego corresponde a
parte psíquica que interage com o mundo externo, derivado do Id, ele vai
moldando a personalidade do ser a medida que este desenvolve sua “consciência”,
sua noção do “eu”, aprendendo a controlar as manifestações do Id (pulsões),
mantendo sanidade mental. Atuando como intermediário entre o real e o mental,
cabe a ele associar as respostas físicas às informações captadas pelos
sentidos, zelando pela integridade do ser enquanto criatura biológica
vulnerável aos agentes externos e internos não só físicos, mas também psicológicos,
filtrando os estímulos de natureza sensível, preparando-o para se integrar
convenientemente a vida. Essa interação entre o Id e Ego, é fundamental para
amenizar a manifestação dos instintos, racionalizando se a pulsão dever ser ou
satisfeita e quando.
O último componente deste
trio, o Superego como próprio nome indica está acima do Ego, ele age como árbitro
mental julgando os pensamentos oriundos do Ego, onde segundo Freud ficam
armazenados os valores morais, conceitos e condutas sociais cerceando os
excessos da personalidade sob a atuação da consciência, da observação de si
próprio em conformidade com as concepções que foram elaboradas no íntimo de
cada um.
Apesar de
configurar-se como a manifestação da consciência individual e censor, o
Superego pode também ser vitima da inconsciência, sucumbindo às compulsões que
atuam na mente de forma indireta. Mesmo estando sujeito a algumas fragilidades
o Superego enquanto estrutura da personalidade está menos suscetível as pulsões
do Id (instintos) constituindo um elemento fundamental para reduzir as tensões
decorrentes dele, sobretudo no que tange ao conceito das projeções, formadas a
partir da manifestação inconsciente dos desejos sobre a percepção consciente,
aludindo ao fato de que parte do comportamento humano pode ser acarretado por
atitudes inconscientes.
Mesmo que muito do que
Freud tenha dito não corresponda aos conceitos mais atuais da psicanálise, ele
como um dos precursores desta ciência que abriu as portas da mente humana
tentando revelar os seu mistérios, deixando um legado inquestionável sobre a
manifestação dos instintos, apesar das contradições.
As observações sobre a
psique humana são um assunto tão vasto que talvez seja impossível esgotá-lo
completamente, talvez porque à medida que vão se desvelando os segredos da
mente outros emergem a superfície reiniciando novamente o ciclo a partir deste.
O que de fato tem sem observado na prática é a interação entre os princípios
filosóficos, psicológicos e empíricos, trazendo aos pesquisadores uma nova
ótica e resultados mais satisfatórios sobre o comportamento humano no que se
refere aos instintos. Essa abordagem tentando esboçar minimamente esse aspecto
do comportamento humano demonstra quão difícil é compreendê-lo. Se os
estudiosos enfrentam desafios desta grandeza, imaginar a situação das pessoas
comuns frente à manifestação dos instintos seria então uma covardia; mas é
preciso encontra alguma forma de enfrentar sua ditadura, superar os obstáculos
internos que levam a essa submissão inconsciente, deve-se lutar contra ela
através do conhecimento de si mesmo sem que se precise apelar para os dogmatismos,
conceitos e convenções inculcados pelas crenças e religiões, que percebendo a
prevalência dos instintos sobre a razão, não demorou a criar mecanismos que
pudessem sobrepujá-los, de que forma, associando a eles a vontade do divino, de
um ente superior ao ser humano, dando a conotação de que o desrespeito a estas
regras constituiria a desobediência a vontade do Criador, condenando o homem a
sua incurável imperfeição, ao limbo da existência, descrente de sua própria capacidade
de se superar e redimir.
Independentemente de
como deverá se processar esse embate, o fato é, em função da racionalidade
humana a prevalência da razão sobre os instintos é mais que uma obrigação, é a
confirmação da condição humana de pensar, por que caso contrário, estar-se-ia
assumindo outra condição, a de inferioridade perante o que há de mais primitivo
existente no comportamento humano, quando deixar-se reger pela impulsividade consuma
de forma irrevogável a situação “animalesca” a que se está submetido. A
gravidade deste quadro se acentua quando se observa a consequência da atuação
de suas manifestações mensurando seus resultados desastrosos. Não é difícil
identificar na própria vida como podem ser devastadores os efeitos do instinto,
não raramente, mergulhando sua vítima num quadro que pode ir muito além do
simples arrependimento e da depressão ocasionados pela tomada de atitudes
impensadas. A atuação dos instintos podem trazer comprometimentos jurídicos e
eventualmente até a própria morte, exemplificada tantas vezes na tragédia que
muitas brigas de trânsito se converteram para seus atores, tanto agentes,
quanto vítimas, em que o saldo comum é que ambos os lados saem perdendo; tornaram-se
presas fáceis do instinto.
É triste constatar que
apesar de toda cientificidade sobre o assunto, grande parte dos seres humanos
continua escrava de seus hormônios e necessidades físicas não vitais,
permitindo que estes se sobressaiam sobre valores pessoais assumidos pública ou
individualmente perante si mesmo, que deveriam balizar e nortear a conduta
ética e moral humanas, traindo a si próprios, suas convicções e aqueles que
confiaram. Acontecimento notório que desgraça muitas vidas que quiseram se aproveitar
de um momento furtivo, instante esse que pouco ou quase nada agregaram a
formação deste ser inconseqüente dos riscos a que se expôs.
Não se trata aqui da
repressão deliberada aos instintos humanos, mas da importância que deve ser
dada ao pensamento e a razão antes de entregar a manifestação deles. A
autoridade da consciência é primordial para que se possa no mínimo almejar um domínio
sobre eles, e essa obediência poderá ser obtida na medida em que cada um seja
capaz de tornar-se senhor de si mesmo, de aprofundar-se dentro do “eu”
individual, averiguando quem está no comando da situação, e a seu juízo fazer a
escolha que julgar conveniente. Pelo ou menos, assim, não caberão justificativas
para si mesmo.
O agir influenciado
pelos instintos nivela o ser humano por baixo, levando-o a bestialidade, ao não
pensar. É precipitado e imediatista, representado pelo querer puramente irracional,
sem a substância ou o conteúdo da razoabilidade, sucumbindo a vontade
primitiva, como um animal qualquer, neste aspecto ele é igualitário, destruindo
a individualidade, remetendo o homem a vala comum da indiferença, que significa
a perda do direito de escolha sobre seus atos, a subserviência cega as
aspirações físicas e biológicas, confirmando a ausência de lucidez que se está
imerso. Essa entrega perniciosa corrompe as estruturas mentais em prol de um
comodismo que enfraquece o esforço de evolução e no mínimo engessa a
racionalidade, sujeitando o ser humano a falta de civilidade que inviabiliza convívio
social em certas ocasiões.
É preciso salientar
que a liberdade de expressão e a espontaneidade em nada podem ser comparadas às
manifestações do instinto. São coisas divergentes em suas origens e suas
essências, não devem ser confundidas de maneira alguma, essa confusão
consistiria no consentimento de que as coisas podem ocorrer ao bel prazer da
inconsciência, esse comportamento mergulharia a sociedade humana numa anarquia
regida pela bestialidade e pela força bruta, tornando-a escrava dos próprios
instintos e ainda mais sujeita a barbárie que assola a humanidade
periodicamente, tolhendo aquilo que o homem tem de mais nobre, a capacidade de
pensar por si só. Controlar as pulsões e optar pelo caminho correto, o menos
tortuoso, aquele que só se pode explorar quando é percorrido acompanhado da
observação e da inteligência, que devem atuar de forma ampla e irrestrita, concede
ao andarilho a possibilidade de reconhecer qual das alternativas é
verdadeiramente boa, imputando a cada um a responsabilidade de suas próprias
escolhas, feitas à luz da consciência e não somente sob a influência dos
instintos.
Bons dias Luiz,
ResponderExcluirComo diria o meu avó: O Instinto é mais em baixo... kkkkk! Desculpe a jocosidade, eu sei que o assunto é sério. Sério no sentido de que merece consideração especial, portanto, importante. Penso que compreender o Instinto é uma tarefa infindável e pode ser resumida na frase: “Só termina quando acaba”.
Para mim esse tema é tão complexo que só há duas maneiras de tratá-lo: 1) de forma extensa e profunda, como você o fez, e para isso é necessário ter capacidade; ou 2) para os incapazes, abordá-lo de forma simplista, como é o meu caso. E no caso, sendo complacente com meu ego, digo que vou tratá-lo com simplicidade, mas na realidade é falta de capacidade mesmo.
Por onde começar?... Vou começar pelo começo. Pelo começo do seu texto, pois começar pelo verdadeiro fio da meada nesse novelo é algo, para mim, impraticável.
No primeiro parágrafo do texto, você sugere remetermo-nos a auto-observação ao considerarmos esse tema. Essa indicação é o único fio da meada possível de vislumbrar, por mim, bem como a única possibilidade de agregar algum valor dessa reflexão a pessoa interessada, que sou eu mesmo.
Ao refletir sobre o que observo em mim mesmo quando estou agindo, sem conceitos formados previamente sobre o tema entrevejo os aspectos fisiológicos e psicológicos entrelaçados de tal forma que julgo impossível desentrelaçá-los. Desse modo, a unicidade de instinto e mente é a característica do nosso modo de ser. Não consigo observar a mente exercendo um controle voluntarista sobre o chamado instinto, nem o instinto nos levando a fazer o que não estar em acordo com essa mente.
Talvez, isso seja devido à incapacidade de observar os fatos de forma analítica. Frente a essa incapacidade que ora revelo é que, para “controlar” as pulsões e tentar caminhar de forma correta, ou melhor, para caminhar da forma que penso ser correta, tento ver o que está contido em cada ação como um todo, sem separar o que é instintivo e o que é consciente.
Simplificando com simplismo. Essa é minha vida. Esse é meu Pensamento Assimétrico.
Abração,
Roberto Lira
Bom tarde Roberto,
ExcluirDe certa forma consinto com suas reflexões, também percebo em mim mesmo a dificuldade para lidar com os instintos. Entendendo-os como energia primária, aquela que impulsiona não só o ser humano, mas também os animais.
É natural que não seja tão fácil se desvencilhar deles, essa simbiose entre os instintos e a razão é necessária, no entanto, assim como a personagem Spock de Jornada na Estrelas, busca incansávelmente o raciocínio lógico absoluto, penso que devamos perseguir a razão, essa mesmo que me faz redigir essas palavras, fazendo vibrar meus neurônios motivados por outra energia, mais sutil, que desperta nossos sentidos para o incognoscível, que talvez possa ser alcançado pela contemplação. É a essa racionalidade que me apego, aquela que fomenta a dúvida, que nos faz refletir sobre nossas origens, de onde viemos, para onde vamos; que não é intrínseca aos instintos, que para uma vertente dos espiritualistas, embora não tenha colocado neste texto, são uma contingência do corpo físico.
Se observarmos nossa existência através de uma ótica astral, extrapolando para os aspectos evolutivos extrafísicos, sucumbir aos instintos, até certo ponto, representa um atraso no processo de evolução do espírito, considerando que estamos aqui para realizar esse objetivo. Logicamente estou especulando no campo das incertezas, mesmo que já tenha me permitido a estudar tais assuntos, onde, não posso negar, experimentei coisas que estão além das explicações científicas, mas que poderíamos incluir nas manifestações dos fatores PSI, entendo que a busca pela consciência, deve ter certamente, um vínculo muito forte com esse controle sobre as atuações do físico sobre o psicológico.
Outro aspecto que não abordei neste texto, para não suscitar polêmicas, mas deve ser levado em consideração é a capacidade feminina para lidar com os instintos. Talvez esteja redondamente enganado, mas percebo que as mulheres estão bem a frente dos homens neste quesito. Em função dos preconceitos de que sempre foram vítimas, cobrando delas uma conduta mais contida e recatada, elas devem ter desenvolvido um controle maior sobre suas propensões a sucumbir os estímulos da libido, no entanto, não quer dizer que estejam imunes a eles, ou que sejam mais tranquilas, serenas ou ponderadas, o comportamento feminino pode oscilar, principalmente quando envolvem a atuação dos hormônios, por exemplo, e neste caso, elas estão muito mais vulneráveis que nós. Mas em geral elas são menos impulsivas, no trânsito é muito fácil observar isto.
Nós homens, também em decorrência da cultura vigente que nos cobra um postura mais agressiva e decidida, somos incentivados a acatar aos impulsos do corpo, não só pelos hormônios, mas por todo um mecanismo social, político e religioso que nos ampara, concedendo-nos a benção para nossas atitudes, muitas vezes impensadas.
Como homem, compreendo as dificuldades de realizar esse processo de superação aos instintos, bancar o eunuco, principalmente numa sociedade machista como a ocidental, não é tarefa fácil, mas minhas convicções nesse sentido são muito fortes, não só de cunho sexual, mas também as outras pulsões que afligem o sistema nervoso e são oriundas das mais diversas fontes.
Para mim a vida é feita para ser vivida, entendo que ninguém precise "castrar-se" para ser digno, não precisamos virar um monge, como aludiu JK no texto que postou, para que possamos evoluir. Somos o que somos, com nossas virtudes e defeitos, mas se pudermos melhorar algo, porque não.
Cada um de nós tem suas medidas e suas limitações, com certeza, todos ao seu tempo, encontrarão as respostas que buscam, se esse processo se realizará sob a tutela da razão, com ou sem a atuação do instintos, eu não sei, mas certamente a Natureza é justa, e dará a todos uma oportunidade de encontrar-se.
Grande abraço,
Luiz Otávio