segunda-feira, 23 de julho de 2012

O Peregrino


   Ao se observar de forma sistemática e isenta as doutrinas que assolam a sociedade humana ao longo da história, é bastante provável se alcançar algum consenso e elaborar uma análise crua de alguns de seus aspectos, sem, no entanto, pretender criticar qualquer uma delas. Saliente-se que algumas prestam um serviço bastante positivo aos seres que nelas ingressam, contudo permanecem contaminados pelo germe da crença. Certas correntes doutrinárias apresentam um conjunto de técnicas e metodologias muito interessantes e que de fato são capazes de serem aplicadas às pessoas que as praticam surtindo efeitos muito positivos na personalidade dos praticantes. Apesar dos benefícios, seria justo doutrinar? "Melhor que dar o peixe, é ensinar a pescar." Parafraseando este dito popular, um estimado conhecido cunhou a frase, "Melhor que ensinar a pescar, é ensinar a pensar."*, então, por que não ensinar a pensar, pura e simplesmente?

   Como  conceituar o que seja uma coisa boa ou devotada para o bem, como averiguar o relativo propósito do bem? Partindo do princípio de que qualquer empreendimento pode ser de bem, e que ele resulta de uma ação ou trabalho bom, podemos inferir logicamente que se ele se propõe a fazer coisas boas, balizadas na moral, nos bons costumes e nos princípios de família; demonstra então, ser este, um empreendimento do bem, correto. Ainda assim, cabe perguntar: os pressupostos acima são realmente verdadeiros ou algo questionáveis? O fato é que muitas obras ao longo da história da humanidade se diziam de bem, no entanto, impuseram aos seguidores códigos de conduta nada recomendáveis.

   Mesmo no seio das religiões, partindo-se da premissa de que aparentemente todas são obras de bem, é fácil perceber que existem os extremismos. Os extremos geralmente são referências do exagero. Geograficamente falando, são os pontos mais distantes do centro de uma área demarcada qualquer. Entendendo-se que o centro pode ser considerado o “meio ou a metade”, percebe-se que é justo situar algumas doutrinas ao centro, ou seja, distam dos extremos, mas isso não isenta seus praticantes da credulidade, aquela que induz seus adeptos a acreditar naquilo que lhes é “ensinado”, crentes de que estão o fazendo sob a atuação da consciência. Indaga-se, ao "trabalhar" na difusão destas obras por acaso não seria outro extremo, o proselitismo fomenta a própria intolerância, já que busca somente desacreditar qualquer outra fonte de sabedoria que não convirja com os ensinamentos praticados nesta ou naquela corrente ideológica. Essas características não configuram um desrespeito à opinião alheia, uma perseguição cega a qualquer “heresia”? A resposta é clara, não?

   Há de se admitir que o conhecimento e as informações são extremamente necessários para que a elaboração de um juízo de valor seja imparcial, requisito fundamental  para se julgar qualquer coisa. Quem se propõe a buscar a si mesmo deve considerar cada aspecto apresentado e ponderá-lo, vislumbrando obter algum subsídio íntimo para decidir seu destino embasado pelos fatos que observou, desta forma permitir-se a avaliar individualmente, cada aspecto, consentido ou refutando aquilo que assimilou.

   Ao executar essa tarefa particular, confrontar as compreensões pessoais e interpretações sobre os assuntos já vivenciados, talvez culminem na concepção de algo mais concreto, consistente. É importante observar que a leitura de qualquer documento escrito ou a audição de um palestrante pressupõe a atuação da razão, do bom senso, da maturidade, do pensamento livre e independente, desvencilhado de sentimentos passionais.  Quem sabe assim, será possível a ao peregrino julgar de forma neutra e refletida o conteúdo de sua busca, concebendo seus próprios conceitos e dando a si mesmo a oportunidade de uma apreciação sensata.

   Assuntos dessa natureza servem apenas aos propósitos individuais daqueles que insistem em  buscar alguns esclarecimentos, ou para aqueles que almejam alguma explicação sobre as dúvidas permanentes, aquelas que levam o homem a perseguir as respostas para sua existência e as suas origens imateriais.

   Peregrinar é algo pessoal e contínuo, e quem vai delimitar essa aventura ou até onde essa jornada vai chegar, é você. 


* a frase citada acima é de autoria de Nagib Anderáos.

Um comentário:

  1. Bons dias, Luiz!

    Prezado compartilhador, a vida de peregrino é igual rapadura; pode até ser doce, mas não é mole não. Desculpe o chiste, mas sendo um sobrevivente dessa situação não consegui conter-me. Luiz, dessa vez tu cavoucaste fundo. Acho que só vou ser capaz de rodear o assunto.

    Não consigo enxergar nenhum benefício em doutrinar, muito menos justeza em qualquer doutrinação. Prefiro prosear, e, se a prosa for útil a alguém podem levá-la, isenta de agradecimentos ou direitos autorais. Quanto a “ensinar a pensar”, eu me contento em apenas ser ajudado a pensar. E, preferencialmente, que essa ajuda venha a me capacitar a pensar numa abordagem interrogativa, que entendo ser a forma mais elevada de pensar. Como diz a “lenda”: a pergunta surge com a inspiração, enquanto a resposta depende apenas da transpiração.

    Como já tinha advertido, hoje vou devolver a bola rodeando-a, por baixo. No tênis dizemos que estamos devolvendo-a (a bola) com slice. Desse modo, amortecemos a potência da bola que vem em nossa direção, devolvendo-a de forma que ela flutua até o adversário. É o famoso “cozinhando o galo”.

    Um abração,

    Roberto Lira

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